Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 289

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Caçulinha acabara de perder sua virgindade e embora o noivo falasse para ela não
se preocupar, pois o sentimento dele por ela não mudara, ela tinha medo do seu futuro, de
seguir a sina das irmãs.
A jovem vivia angustiada, apenas chorava, o noivo já não era mais o mesmo, até que
a abandonou, ele não a considerava mais digna para o papel de esposa, mas sim para o de
amante. A jovem resolveu contar para mãe o fato, e a mãe imediatamente a levou à
delegacia para denunciar o rapaz, que nada sofreu, pois era muito rico.
Espalhou-se pela cidade o ocorrido, a jovem foi demitida da Têxtil, pois não era
considerada mais digna para o papel de secretária:
Foi ao próprio Geraldo que entregaram o último ordenado de Caçulinha
juntamente com uma nota, em que a despediam do serviço.
Era este um velho hábito, que desde sua fundação as fábricas vinham
mantendo com rigor: – Não permitir nunca o trabalho, na seção do
escritório, a moças que não tivessem vida honesta. (FONTES, 2003, p.
223).
Tem-se aí, por meio de Caçulinha e as irmãs, a representação do grande preconceito
e machismo contra as mulheres da época, pois Caçulinha que perdera o emprego não teve
outra escolha senão se tornar prostituta, só que diferente das irmãs tornou-se uma prostituta
de luxo. Cabe às moças, única e exclusivamente, a culpa de um caminho, da virgindade que
determina o caráter das mulheres como “de família” ou “amante” (prostituta), ao passo que
aos homens nada acontecia, nem um pré-julgamento, mostrando bem o preconceito, a
estigmatização e o machismo daquela época.
O narrador, ao falar das irmãs que se tornavam prostitutas e de outras moças da
redondeza, dizia que a maioria ia para rua do Siriri, rua das prostitutas de Aracaju, para
ressaltar que o curso da vida dessas moças não poderia ser mais o mesmo, nem mais junto
ao seio familiar, ao trabalho que se tinha, tampouco morar no lugar que quisessem, pois
sofreriam muito ao serem xingadas e maltratadas diariamente.
3 conclusão
A obra revela toda a trajetória da família Corumba, que vivenciou uma tragédia, pois
essa família saiu do interior de Aracaju rumo à capital com o sonho de ascender
socialmente, o que almejara de início. No entanto, com o tempo, os filhos vão seguindo
caminhos que não têm mais volta: Pedro é deportado para o Rio de Janeiro, pois se envolve
com grupo político de esquerda e as filhas Rosenda, Albertina e Caçulinha tornam-se
prostitutas e Bela morre.
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