271
Funari e Piñón (2011) apontam que desde o descobrimento do Brasil as imagens
sobre os indígenas começaram a ser moldadas e difundidas nas terras colonizadas por
Portugal. Mesmo com as doenças que assolaram grande quantidade de nativos, ou com as
fugas migratórias que as tribos fizeram em direção ao interior do território para fugir da
exploração dos portugueses, há nativos que se misturaram com os colonizadores por meio
da miscigenação e contribuíram com a constituição de “[...] grupos humanos com forte
componente indígena” (FUNARI; PIÑÓN, 2011, p. 113). Dessa maneira, continuam os
autores, a cultura indígena constituiu parte do mundo colonial por muitos séculos.
No século XIX, criou-se diversas imagens acerca dos indígenas como o “bom
selvagem”, ou a imagem da Iracema, a “índia dos lábios de mel”. Essas imagens, segundo
Funari e Piñón (2011), perpetuaram-se nos séculos seguintes, o que não significa que os
massacres e perseguições tenham cessado. Além disso, nesse período também surge um
forte sentimento de negação à ascendência indígena por vergonha, ou seja, uma tentativa
de “apagar o índio” do passado dos brasileiros.
A obrigatoriedade de ter conteúdo da história e cultura indígena nas aulas de
História, Literatura e Artes, contribuiu “[...] para uma necessária discussão a respeito das
discriminações a que foi sendo submetido esse grupo formado pelos ‘eles’, buscando
equalizar as desigualdades engendradas com base nessas diferenças socialmente
construídas.” (SILVA, M., 2012, p. 152).
A escola, apontam Funari e Piñón (2011, p. 116),
[...] por seu papel de formação da criança, adquire um potencial estratégico
capaz de atuar para que os índios passem a ser considerados não apenas
um “outro”, a ser observado a distância e com medo, desprezo ou
admiração, mas como parte deste nosso maior tesouro: a diversidade.
Um dos meios de cumprir a lei nº 11.645 e introduzir a temática indígena nas escolas
brasileiras é promovendo a mudança do currículo. Portanto, pensando que o currículo do
ensino de História foi modificado após a promulgação da lei, nosso questionamento é: Quais
são as representações acerca dos indígenas que encontramos nas propostas curriculares
das escolas públicas brasileiras?
Chartier (1990, p. 17) salienta que “as representações do mundo social assim
construídas, embora aspirem a universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são
sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam”. Deste modo, para
compreender os mecanismos que um grupo utiliza para impor (ou tentar impor) sua visão de
mundo, suas concepções, seus valores, analisar as representações, segundo Chartier
(1990), é tão importante quanto analisar as lutas econômicas.