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grande parte dos capítulos é formada por escritores do Romantismo, servindo de matéria-
prima para o crítico estruturar seu pensamento analítico. Se os românticos legitimam a
literatura brasileira, por intermédio da definição do processo de desenvolvimento da
autonomia do pensamento nacional, cabe aos críticos naturalistas rever, via cientificismo, o
cânone proposto pelo romantismo. Assim sendo, por meio do pensamento de críticos
brasileiros e estrangeiros ou da propagação das ideias literárias apresentadas em revistas e
periódicos, os românticos debatem os rumos da literatura brasileira, destacando sua origem
e caráter.
Com os ventos da República, no entanto, busca-se uma identificação com os grupos
estrangeiros por meio de um sentimento cosmopolita que faz do Rio de Janeiro o centro da
cultura, política e das ideias no Brasil.
Segundo José Veríssimo, o “bando de idéias novas” que formam o pensamento dos
intelectuais da chamada “geração de 70” definia um “modernismo” capaz de desvendar as
motivações da cultura nacional. A “geração de 70”, utilizando-se das ideias do positivismo e
do evolucionismo, difunde os debates intelectuais da época, como a Abolição e a República,
desenvolvendo um conceito evolutivo de História, que rompe com o conceito de História
natural do século XVIII, vinculado à Biologia, à Economia e à Filologia, criando a ilusão de
progresso e identidade com o novo Estado-nação brasileiro, ao defender os ideais da
República e provocar o distanciamento da situação de colônia.
As escolhas de Veríssimo determinam uma utilização clássica da linguagem e não
experimental, como no caso Euclides da Cunha e Lima Barreto, cujo padrão de cultura seria
desenvolvido pela elite intelectual que se concentrava na Academia Brasileira de Letras.
Segundo João Alexandre Barbosa, a “História
é muito mais obra de um crítico
literário que adotava um ponto de vista histórico que obra específica de historiador literário,
preocupado antes em julgar valores do que pesquisar origens ou consagrar opiniões.”
(BARBOSA, 1974, p. 75).
Sílvio Romero (2001), por exemplo, tratava a crítica como uma forma de contribuição
para a cultura nacional, ao passo que, Veríssimo buscava uma concepção crítica com base
nas “boas e belas letras” aliadas ao contexto socioeconômico do Brasil.
Quando os intelectuais da “geração de 70” percebem que os ideais republicanos não
atendem às expectativas dos pensadores que esperavam um modelo sociopolítico-cultural
progressista e engajado na solução de todos os problemas sociais, transformam o Brasil
num campo de debates e polêmicas, conforme definição de Roberto Ventura:
Ao longo das polêmicas entre Romero, Veríssimo, Araripe, Capistrano de
Abreu e Teófilo Braga, surgem questões até hoje presentes na crítica
literária: o predomínio da história ou da estética na interpretação literária, os
destaques dos fatores extrínsecos ou intrínsecos da obra, a análise do tema