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as nossas primeiras manifestações literárias, sem que a vassalagem ao
pensamento e ao espírito português lograsse jamais abafá-lo. É exatamente
essa persistência no tempo e no espaço de tal sentimento manifestado
literariamente, que dá à nossa literatura unidade e lhe justifica a autonomia.
(VERÍSSIMO, 1916, p. 23).
As palavras de Veríssimo demonstram sua persistência em valorizar o processo de
formação da literatura brasileira baseado na criação de uma cultura peculiar ao Brasil e de
uma língua, que se altera em contato com o meio e diversas culturas e, assim, sofre as
modificações de seu tempo e espaço. Para o crítico, sua
História
representa a unidade de
uma literatura que adquiriu características próprias e autonomia suficiente para selecionar
aqueles escritores mais representativos – seja do ponto de vista histórico, seja do ponto de
vista estético – delimitando o campo de ação do crítico.
Veríssimo pensa o Brasil segundo os postulados de uma
História da literatura
brasileira
comprometida com o processo de desenvolvimento da nação e sistematização
cronológico-interpretativa em que a miscelânea de fontes utilizadas cumpre o papel de
explicar o desenvolvimento das letras no Brasil.
Assim sendo, a definição da crítica literária enquanto gênero e como instância
mediadora entre o público e o escritor, estabelece um poder centralizador capaz de vincular
a literatura aos demais ramos do conhecimento, como define José Veríssimo, e aliar a
história da literatura brasileira ao incremento das artes e ao desenvolvimento do meio;
“nosso progresso literário, correlacionado com a nossa evolução nacional”. (VERÍSSIMO,
1916, p. 35).
Gradativamente, a
História
vai abandonando o critério de nacionalidade, herdado da
crítica romântica, substituindo-o por noções estéticas que colocam a literatura nacional no
plano universal. Aliado a essa valorização da “universalidade” da literatura nacional se
constrói o campo de ação do crítico literário e a especialização do discurso sobre a
literatura. É importante notar, também, que para o crítico a literatura brasileira vai
abandonando a valorização das “escolas literárias” em nome de “individualidades literárias”.
Seguindo os postulados de Gustave Lanson, que seleciona escritores e obras articulados a
fatos históricos e literários sob a forma de um manual, construindo um modelo ideal de
história da literatura que mistura generalizações históricas, perfis psicológicos e julgamentos
críticos que servirão como padrão para muitos outros críticos. José Veríssimo busca superar
o modelo naturalista.