Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 262

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As referências para os críticos do século XIX, via de regra, eram emprestadas da
Histoire de la Litterature Anglaise
(1864)
,
de Hypolite Taine que condicionava a produção
literária a uma análise biológica. Taine desenvolve a ideia da
faculté maitreisse
,
que
explica o “gênio individual” dos escritores mais importantes para uma nação. Veríssimo,
seguindo Taine, também escolherá para sua
História
aqueles escritores que possuem maior
representatividade para a literatura brasileira. A
faculdade-mestra
atua, portanto, como um
princípio de valorização da individualidade dos escritores que, ao longo da história,
tornaram-se modelos de representação artística e literária, servindo como elo entre o
escritor e seu contexto.
Apesar do condicionamento da obra literária a conceitos biológicos, Taine não revela
muito interesse pela história literária e a relação de continuidade ou totalidade da tradição
literária na França, preferindo tratar as obras literárias com base em suas características
individuais. Aproximando o pensamento de Taine ao de Veríssimo, pode-se afirmar que
ambos reuniram em si ideias e teorias que adquirem um complexo, e até mesmo
contraditório, caminho crítico. No caso de Taine é possível observar a combinação entre o
ideal hegeliano e a fisiologia naturalista, senso histórico e idealismo, individualidade e
determinismo universal, consciência moral e intelectual. São coordenadas que
complementam o pensamento de Taine ao concatenar a sociologia ao individualismo dos
grandes escritores.
Precursor das relações entre sociologia e literatura, Taine procura relacionar o
contexto social e político ao cenário artístico específico e suas relações com o público
literário específico. Dessa relação nasce a valorização da “representatividade” do escritor
que será uma das bases do pensamento de Veríssimo ao montar a
História
.
A
representatividade assume, assim, o papel de vinculação entre o espírito individual das
obras e a nação.
Como observa Veríssimo:
Não há na verdade nação sem literatura. Assenta a justeza deste conceito
de Ferrero no postulado de que a literatura é a expressão da sociedade, a
manifestação escrita do pensamento e do sentimento de um povo. Um povo
que não os tivesse, dignos de serem exprimidos, e que não achasse em si
os estímulos necessários à sua expressão, não seria uma nação
.
(VERÍSSIMO, 1979, p. 43).
Para Veríssimo, o elemento nacional adquire uma gradação de significado porque
pode transformar-se em critério “ideológico”, quando se trata do período colonial, ou em
critério estético quando se trata dos escritores românticos. De certa forma, Veríssimo adota
um ponto de vista analítico calcado no conservadorismo romântico que encara a literatura
colonial como ramo da portuguesa e a literatura nacional como legitimação do caráter
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