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histórico que permitisse a compreensão de Albuquerque como herói nem de Vila Rica como
espaço de merecido louvor.
Segundo Rodrigues (2012), a prosa do “Fundamento Histórico” pretende seguir a
vocação historiográfica e os aparatos acadêmicos que orientavam a elaboração de uma
‘memória histórica’. De acordo com Kantor (2004, p. 203-242), esse gênero é constituído por
quatro procedimentos básicos:
a) elaboração de um discurso histórico que glorificasse o espaço imperial,
organizando, para isso, ‘memórias’ e ‘documentos’;
b) teorização dos interesses do estado como superiores às responsabilidades
religiosas, o que conduz à progressiva secularização das leis e das fontes do direito;
c) definição de métodos específicos para a autenticação das fontes, com as quais se
consolida a separação entre narrativa historiográfica e ficção;
d) consolidação de um canal de expressão e de sociabilidade dos grupos letrados
luso-americanos, com construção de uma rede de colaboradores para a coleta de
informação.
No Fundamento Histórico é possível reconhecer em todos os elementos
supracitados, uma ‘memória’ bem ao gosto dos aparatos defendidos pela Academia
Brasílica dos Renascidos.
As semelhanças entre o Fundamento Histórico e os escritos da Academia Brasílica
dos Renascidos podem ser encontradas na temática do documento, que dialoga com a
finalidade das investigações da referida academia, a forma do documento, que mantém
relação muito próxima com a elaboração de uma dissertação acadêmica, pelo uso de um
modo de escrita específico, calcado, sobretudo, no discurso argumentativo da retórica e,
além desses indícios, observa-se a existência de declarações do poeta que o ligam a uma
rede de contatos formada a partir da agremiação.
A Academia Brasílica dos Renascidos era uma instituição de utilidade pública. Como
esclarece Lima (1980), associava-se a preocupação de prestar serviços a toda comunidade,
no sentido de informação cultural, como consta da “Adição dos estatutos”:
Desejando a mesma academia fazer-se útil à Pátria, quanto lhe for possível,
e compondo-se hoje de Sócios, muito eruditos, e versados em todas as
faculdades, se oferecem a responder a todas as dúvidas, que a ela quiser ir
propor qualquer Pessoa, e em qualquer matéria. (LIMA, 1980, p. 109).
Assim, já se pode estabelecer uma aproximação entre a prática institucional da
academia e a intenção de Cláudio Manuel da Costa em seu “Fundamento Histórico”.
As Minas Gerais representavam a maior parte da arrecadação régia. Assim, nada
mais compreensível que “presentear” seus habitantes e a coroa com um estudo histórico