Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 233

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interculturalidade, conforme conceitua Caterine Walsh, na revista
online
sobre Colonialidade
do Poder:
Uma configuração conceitual, uma ruptura epistemológica que se baseia
nas realidades do passado e do presente vivido como dominação,
exploração e marginalização, que são simultaneamente constitutivas como
um resultado, do que Mignolo chamou modernidade/colonialidade. A
configuração conceitual enquanto construção de uma resposta social,
político, ético e epistêmico às realidades essas que ocorreram e ocorrem,
falo de um lugar de enunciação indígena. (WALSH,
2007, p. 50)
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Walsh defende um rompimento das epistemologias que possuem como base
principal a relação passado e presente, as condições de marginalização e subalternização
indígena. Sendo assim, é preciso um processo de interação entre os pensamentos que
incluam o indígena e o seu lugar de enunciação, que compreenda o seu lugar político, e
ainda “há que se notar, já nesse aspecto ancoram-se os processos de interculturalidade,
matizadores das características fronteiriças, da ‘passagem’ e ultrapassagens culturais, de
uma margem a outra” (SANTOS, 2011, p. 147). Há várias marcas que propiciam uma
discussão acerca desse lócus
enunciativo do grupo Brô MC's, suas especificidades locais, a
ausência de uma autoridade do estado – visto que a fronteira possibilita certas mobilidades
ilegais, a inter-relação com outros fazeres políticos, econômicos, culturais e sociais. É,
portanto, uma “zona de interculturalidade, de hibridismo cultural, a língua como elemento
agregador era, na realidade, constitutiva de uma Babel linguística” (SANTOS, 2011, p. 150).
Esse emaranhado das
coisas
fronteiriças faz remissão ao bilinguajamento, presente na
fronteira e seus limites geográficos, e também o estar e o ser
fronterizo
do grupo de rap
indígena Brô MC's, como delimita Walter Mignolo:
O bilinguajamento […], ou o bilinguajamento dos “zapatistas” que escrevem
em espanhol, inserindo estruturas e conceitos das línguas ameríndias, não
é uma questão gramatical, mas política, até o ponto em que o foco do
próprio bilinguagismo é corrigir a assimetria das línguas e denunciar a
colonialidade do poder e do saber. (MIGNOLO, 2003, p. 315).
Por meio dessa discussão, propiciada pela conceituação e epistemologia
intercultural, pensada por intelectuais (também indígenas, como Silvia Rivera Cuzicanqui) e
baseada nesse lócus enunciativo latino, pois se trata de um povo que habita este interstício
entre ser e não ser, entre falar e não falar a sua língua ameríndia, que essa discussão é
eregida. Além disso, é um povo que, por meio da colonialidade do poder, deve saber a
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Original: “Una configuración conceptual, una ruptura epistemológica que tiene como base el pasado y el presente, vividos
como realidades de dominación, explotación y marginalización, que son simultáneamente constitutivas, como consecuencia de
lo que Mignolo há llamado modernidad/ colonialidad. Una configuración conceptual que, al mismo tiempo que construye una
respuesta social, política, ética y epistémica para essas realidades que ocurrieron y ocurren, lo hace desde un lugar de
enunciación indígena”. (Tradução nossa).
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