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O grupo de rap indígena Brô MC's, vendo-os como novos atores sociais, pode ser
enxergado como uma representação dessa contestação do poder desigual, opressor e
hegemônico. Sua canção pode ser vista como um movimento que pontua e delimita essas
especificidades, partindo do indivíduo etnicamente indígena, sujeito produtor das histórias
locais, para sua canção carregada de elementos globais. Pode-se, também, associar [o
grupo] com a transculturação proporcionada pelo estado fronteiriço, como já mencionado,
visto que “a partir da noção de paisagem transcultural,” não perdendo, “a dimensão política
marcada por novos sujeitos sociais e o desejo comparatista presente na formulação do
entre-lugar” (LOPES, 2012, p. 13). E, ainda assim, “a noção de interculturalidade o fato de
dar importância cada vez maior aos trânsitos não só geográficos (migrações, diásporas),
mas a viagens feitas através dos meios de comunicação de massa”
(LOPES, 2012, p. 13).
Essa manifestação encontra-se arraigada à globalização e as discussões epistemológicas
outras, com o intuito de criticar, ou ao menos tentar pensar numa crítica outra com relação
às críticas hegemônicas hoje vigentes. Partindo dessa premissa, tomamos a crítica pós-
colonial para entender a produção cultural latina, pois é necessária uma leitura anti-
hegemônica para compreender a subalternidade indígena dessa região, em particular.
2 Colonialidade do poder diante da memória indígena
[…] as realizações intelectuais exigem condições materiais, e
condições materiais satisfatórias relacionam-se com a
colonialidade do poder. (MIGNOLO, 2003, p. 26).
O que conta não é o sangue ou a cor da pele, mas as
descrições
das misturas sanguíneas e da cor da pele criadas e
praticadas dentro e pela colonialidade do poder. A mistura
sanguínea e a cor da pele, que eu saiba, não trazem inscritos
um código genético que se traduza em código cultural. Em vez
disso, são as descrições feitas por aqueles organismos vivos
capazes de descrever a si próprios e a seu ambiente.
(MIGNOLO, 2003, p. 39).
A comunidade indígena latina, bem como o discurso erigido dessa mesma região,
precisa – sobretudo, no Brasil, onde particularmente as etnias Guarani-Kaiowá, etnia dos
jovens do Brô MC's, reside – de um maior envolvimento crítico, tantos do próprio discurso do
sujeito indígena, quanto de tantos outros meios de informação, educação e comunicação
que abordam as questões deste povo. Trata-se de uma etnia que habita por todo território e
há constantes batalhas ocasionadas por terras e discussões em torno da exclusão como
resultado da memória do preconceito e da marginalização. Mas esta voz não tomará o lugar
do discurso indígena, ou nem fará com que o indígena necessite que o represente. Esta voz
que brada se faz necessária a partir do momento em que é preciso descolonizar os