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FIGURA 01: Capa do CD “Brô MC’s”
Fonte: BRÔ MC’s
O CD do grupo é quase artesanal: não possui gravadora, a capa é uma fotocópia
comum, gravado num disco gravável normal, adquirido em qualquer comércio, lacrado
apenas por um envelope de plástico – tudo realizado sem grandes recursos tecnológicos ou
financeiros. Os vídeos postados no site
YouTube
também apresentam um aspecto
artesanal, sem muitos efeitos computadorizados. As músicas apresentam uma grande e
valiosa carga cultural. O vídeo clipe da canção “Tupã”, disponível no site mencionado, foi
filmado numa reserva indígena em meio ao verde e as matas. Porém, ao fundo, percebe-se
uma imensa favela separando-os do restante da cidade. O som é acústico, desplugado das
aparelhagens. Os jovens, como na maioria das comunidades indígenas brasileiras, vestem
roupas ocidentalizadas; no entanto, possuem acessórios indígenas como cocares e penas,
que remetem ao arquivo indígena, resgatando, assim, as suas memórias. Por meio destas
características, visualizamos que há um intento em “conectar e traçar uma genealogia do
pensamento a partir das histórias locais que absorveram projetos globais” (MIGNOLO, 2003,
p. 82).
Sendo assim, a população indígena é uma das etnias que mais absorveram culturas
outras com o passar dos séculos, mais ainda nessa era da tecnologia e informação. Por
essa razão, Walter Mignolo afirma que:
A emergência de novos atores locais com uma nova agenda internacional é
hoje óbvia. Esses novos atores sociais estão contestando a ideia de que
projetos globais só podem emergir de uma determinada história local e
estão reformulando as regras do jogo. A desigualdade do poder, entretanto,
é ainda evidente. Os movimentos indígenas na América Latina evidenciam
esse ponto. (MIGNOLO, 2003, p. 401).