Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 230

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conhecimentos e saberes epistemológicos em voga nas academias latinas. É com base
nessa constatação crítica que se justifica a necessidade de tratar e abordar epistemologias
outras e tentar criticar os saberes hegemônicos dominantes, pois um saber hegemônico não
consegue visualizar as inerências desses
loci
enunciativos, uma vez que, não estão nesse
espaço para compreendê-los.
Para que isso seja feito, nas próprias comunidades indígenas e também nos saberes
críticos latinos, é preciso abordar a descolonialidade no meio acadêmico, defendida por
Walter Mignolo no artigo “El pensamiento decolonial: desprendimiento y apertura: Un
manifiesto”, presente na revista on-line
El giro decolonial
. Quando há o questionamento na
academia, percebemos um enorme preconceito por parte de quem não pesquisa e mesmo
de algumas pessoas que estão na academia. Beira um abismo natural e aceitável que
possua como objeto ilustrativo das pesquisas os saberes provenientes da literatura
(entendendo-a como uma manifestação cultural canônica); mas e as outras manifestações
culturais subalternas, transculturais e propriamente indígenas do grupo? Onde se situa?
Esquecemos que a América Latina, o Brasil e o estado fronteiriço de Mato Grosso do Sul,
durante muito tempo, fizeram parte de um sistema supressor e opressor, chamado colônia.
A academia, parafraseando Walter Mignolo, no início de seu texto, presente na revista
supracitada –
El giro decolonial
– aponta para a precisão em discutir e englobar o conceito
de descolonialidade para avançar nas pesquisas e não apenas estarem sendo cúmplices de
uma constante cópia do que já foi dito.
O conceito de “descolonialidade”, apresentado neste livro, é útil para
transcender a assunção de determinado discurso acadêmico e político,
segundo a qual, a fim de administrações coloniais e a formação dos estados
nacionais na periferia, vivemos agora um mundo descolonizado e pós-
colonial. (CASTRO-GÓMEZ; GROSFOGUEL, 2007, p. 13).
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Não podemos ficar à mercê da colonialidade, do poder de excluir manifestações
culturais das quais não são e não podem ser incluídas nos pensamentos hegemônicos,
tendo em vista que “a colonialidade do poder é o eixo que organizou e continua organizando
a diferença colonial, a periferia como natureza” (MIGNOLO, 2007, p. 74). Será que não há
como fazer uma leitura, ou desvendar a cultura latina e, no caso deste artigo, o
rap
do grupo
Brô MC's, sem arrolar a história colonial desta região? “Já não é possível conceber a
modernidade sem a colonialidade” (MIGNOLO, 2007, p. 75).
É preciso que nos valhamos de uma nova epistemologia para pesquisar o
rap
do
grupo Brô MC's, uma linguagem, segundo Walter Mignolo, “sem depender da velha
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Original: “El concepto 'decolonialidad', que presentamos en este libro, resulta útil para transcender la suposición de ciertos
discursos académicos y políticos, según la cual, con el fin de las administraciones coloniales y la formación de los Estados-
nación en la periferia, vivimos ahora en un mundo descolonizado y pós-colonial”. (Tradução nossa)
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