Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 223

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No que diz respeito ao Bexiga comenta que era um bairro povoado por italianos
também oriundos do sul da Itália, muito religiosos e fiéis aos seus princípios espirituais e
religiosos, respeitavam sempre as datas dos santos de que eram devotos, como São
Genaro e São Vito, enfeitando as suas ruas com bandeiras coloridas e com flores,
acompanhando todas as procissões que ocorriam.
Outro costume relatado em relação a essas italianas era o hábito de luzir as suas
panelas com mistura de cinzas e areia que as deixavam muito limpas, era uma prática
doméstica das quais elas se sentiam orgulhosas por conseguir deixar as suas panelas tão
brilhantes. Este tema discutido por Zélia mostra exatamente qual era a perspectiva que as
mulheres nutriam em relação à vida naquele tempo, a grande realização pessoal delas era
serem vistas como ótima dona de casa, boa esposa, cuidadosa com os afazeres domésticos
e com as outras obrigações do lar.
Os temas que envolvem valores morais também foram discutidos por Zélia, no que
se refere ao carnaval, por exemplo, ela e as suas irmãs eram proibidas de frequentar,
apesar de seu pai – Sr. Ernesto Gattai –, ser um anarquista, não possuir uma religião e ser
um livre pensador como ele gostava de se denominar, tinha certas reservas, quando o
assunto era dar liberdades às suas filhas para participarem dessa importante festa
brasileira. Segundo ele, a palavra carnaval tinha o significado de “o que vale é a carne”, ou
seja, o carnaval seria uma festa imoral, não sendo um lugar para elas frequentarem,
entretanto, apesar de não deixar as filhas se divertirem no carnaval, para os meninos não
havia nenhuma restrição.
Zélia narra que sua irmã Wanda, certa vez, questionou o seu pai, perguntando a ele,
sendo um anarquista, com pensamentos tão libertários, por que não liberava as filhas para ir
ao carnaval, o Sr. Ernesto argumentou que ele era anarquista, mas que a maioria dos
carnavalescos não era:
No dia em que o anarquismo triunfasse no Brasil, aí então ele soltaria as
rédeas. Soltaria mesmo? Tínhamos nossas dúvidas. Nem por anarquista ele
descuidava da virtude das filhas. Filha de seu Gattai devia casar virgem.
Seu anarquismo tinha limitações, graças a Deus! (GATTAI, 2009, p. 217).
Esse assunto também nos faz pensar, mais uma vez, os valores morais de seu pai e
quem sabe também de muitos homens desse período, era ainda um tempo em que havia
muitas restrições para as mulheres, a própria virgindade de uma mulher era um valor a ser
preservado, e ela só poderia vir a perdê-la após o casamento.
As discussões em relação à liberdade sexual feminina ainda constituíam um tabu
para a sociedade brasileira nesse período, seu Ernesto, vivendo neste tempo, também
compactuava com tais valores. A própria literatura anarquista, com a qual dona Angelina e
seu Ernesto tiveram contato, não contemplava a liberdade da mulher e o seu papel social. O
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