Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 216

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IMIGRAÇÃO ITALIANA, RELIGIÃO, POLÍTICA E OS ESPAÇOS DE DIVERSÃO
NO BRASIL NA OBRA “ANARQUISTAS GRAÇAS A DEUS”
Kassiana BRAGA
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Introdução
Este artigo pretende discutir de maneira introdutória a trajetória literária e a primeira
publicação autobiográfica da escritora paulista Zélia Gattai denominada
Anarquistas graças
a Deus
(1979), considerando que, neste livro de memórias, a autora retrata as suas histórias
de infância e adolescência e as histórias de seus antepassados italianos que vieram ao
Brasil em meados do século XIX, visando criar uma colônia socialista experimental (colônia
com ideais anarquistas). Pretende-se, também, refletir sobre outros assuntos abordados por
Zélia, tais como os espaços de diversão que havia no Brasil na década de 20, além de
temas como política, diversidade social, crença religiosa, valores morais, costumes, entre
outros assuntos relatados ao longo de suas inúmeras páginas.
A memorialista Zélia Gattai (1916-2008), esposa do consagrado escritor baiano
Jorge Amado, começou a escrever, no final da década de 70, as suas memórias de infância,
dos seus antepassados e de seu esposo, segundo ela, por incentivo dele e de seus filhos.
Antes de dar início a essa trajetória literária que lhe rendeu 16 livros e um lugar ao “sol” na
Academia Brasileira de Letras no ano de 2001, Zélia era considerada apenas uma mãe
zelosa e boa esposa que acompanhava Jorge em suas viagens, no exílio, nos encontros de
escritores nacionais e internacionais e em congressos gerais. Era também o seu braço
direito, datilografando as obras de seu esposo desde
Seara Vermelha
. Entretanto, apesar de
ser retratada em jornais e revistas do país e do mundo até então como a esposa ideal
(ZÉLIA..., 15 maio 1970, p. 12), “Amélia”, dedicada, companheira, amiga, exemplo de
mulher e de boa mãe, logo começou a ser divulgada pela imprensa também como escritora
a partir de sua primeira publicação, em 1979, intitulada
Anarquistas graças a Deus
(TALENTOSA..., 13 maio 1984, p. 2).
Zélia, de maneira distinta de Jorge Amado, não participou de um curso universitário,
pois nesta época não era tão comum uma mulher estar inserida dentro dos meios
acadêmicos. Salvo raríssimas exceções, a atividade feminina brasileira após a passagem da
infância, girava em torno dos afazeres domésticos, no cuidado com o lar, no zelo pela
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Mestranda – Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Unesp – Univ. Estadual
Paulista, Campus de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP: 19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. Bolsista CAPES. E-mail:
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