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renomado anarquista Bakunin, por exemplo, não refletiu em sua obra o papel social da
mulher, o que para Margareth Rago é surpreendente, uma vez que ele discutiu tantos outros
assuntos relacionados ao poder e à opressão que exercia a religião e outras instituições. Se
referindo a outro importante escritor anarquista que foi Kropotkin, Rago defende que ele
negou, de certa maneira, o caráter da mulher como um sujeito revolucionário (RAGO, 2012,
p. 11).
Diante da análise feita por Rago, pode-se perceber que, mesmo dentro do
pensamento anarquista que pressupõe o princípio da igualdade entre as pessoas, há uma
contradição nesta questão, uma vez que a mulher quase sempre não foi vista como um
sujeito revolucionário, sendo excluída como agente social, talvez isso explique os valores
morais que o Sr. Ernesto nutria em relação às suas filhas, e não se pode esquecer também
que ele era filho de seu tempo.
Considerações finais
Ao analisar a primeira publicação de Zélia Gattai, no final da década de 70, pode-se
constatar que, em sua escrita, ela narra as suas histórias e as de seus antepassados por
meio de suas lembranças de infância e adolescência relatando a imigração italiana, o
período do Estado Novo, os espaços de diversão que haviam no Brasil desde a década de
20, além de costumes, espiritualidade e valores morais, tanto dos italianos do Sul quanto os
valores de seu pai que era um anarquista convicto. Percebe-se que a obra de Zélia Gattai
não tem somente uma importância memorialística, mas uma importância histórica, uma vez
que ela se debruçou a contar sobre alguns acontecimentos que fazem parte do passado
brasileiro.
O seu livro não é apenas uma autobiografia cheia de histórias divertidas e
engraçadas que servem apenas para entreter os seus leitores, é, também, uma fonte
histórica importante para se pensar o passado em diversos períodos e em diversos temas
sociais.
Em
Anarquistas graças a Deus
é possível pensar a sociedade paulistana, nos
séculos XIX e XX, valendo-se dos anseios das mulheres daquela época, bem como dos
seus diversos grupos políticos, étnicos e religiosos como bem nos apresenta a escritora.
Referências
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Memórias de uma jovem anarquista. In: FRAGA, Myrian;
MEYER, Marlyse (Org.).
Seminário Zélia Gattai:
Gênero e Memória. Salvador: FCJA; Museu
Carlos Costa Pinto, 2002. Disponível em:
<
. Acesso em: 16 jun. 2014.