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elementos singulares concernentes à trajetória de uma personagem, mas como o retrato
desse indivíduo permite uma visão mais abrangente da época em que atuou.
Quanto à biografia modal, ainda no bojo do primeiro grupo, a biografia seria não de
uma pessoa singular, de reconhecido destaque em seu meio social, mas de um indivíduo
capaz de concentrar em sua trajetória todas as características do grupo social a que
pertence.
Em relação ao segundo grupo de abordagens, denominada “biografia e contextos”,
Levi afirma que esse grupo busca estudar o biografado relacionando-o ao seu contexto, a
fim de entender como o retrato de uma época pode ser pintado em uma biografia.
Sobre a “biografia e os casos extremos”, Levi (1996) chama a atenção no sentido de
que, às vezes, as biografias são usadas apenas para esclarecer o contexto, nesses casos, o
contexto social é tratado de forma demasiadamente rígida, e, apesar de dar liberdade às
ações dos agentes, ao mesmo tempo estes perdem quase que totalmente suas ligações
com aquilo que o autor denomina “sociedade normal”. É o caso, por exemplo, de
O queijo e
os vermes
(1998), no qual, segundo Levi, Ginzburg usa a biografia de Menochio para
analisar a cultura popular por meio de um caso extremo.
Por fim, Levi destaca que a abordagem que leva em conta “biografia e hermenêutica”
ao:
[...] sugerir que é preciso abordar o material biográfico de maneira mais
problemática, rejeitando a interpretação unívoca das trajetórias individuais,
ela estimulou a reflexão entre os historiadores, levando-os a utilizar as
formas narrativas de modo mais disciplinado e a buscar técnicas de
comunicação mais sensíveis ao caráter aberto e dinâmico das escolhas e
das ações. (LEVI, 1996, p. 178).
Podemos pensar a biografia de Raimundo Magalhães Junior valendo-nos de uma
abordagem que estabeleça uma análise baseada em dois dos modelos de estudo
apresentados por Levi, isto é, “biografia e contextos” e “biografia e hermenêutica”. Estes
dois modelos de abordagem nos permitem trabalhar com nossa proposta, levando em
consideração que a trajetória de um indivíduo, não importa o quão original ela seja, não
pode ser estudada unicamente por meio de seus desvios ou singularidades, mas
apresentando como cada desvio ocorre em um contexto histórico que o justifica (LEVI, 1996,
p. 176). Além do mais, ambos os modelos apresentam-nos a sugestão de que o material
biográfico precisa ser analisado de forma problemática levando em conta que as escolhas,
ações e posições são abertas, dinâmicas, e não unívocas.
Obra que tem uma contribuição significativa e recente sobre a temática do
biografismo é a de Dosse (2009), que analisa historicamente as produções biográficas
conforme essas se enquadram em seus contextos de criação, a fim de verificar os graus de