Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 186

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Essa visão de mundo elaborada pelos tipógrafos pode ser observada ainda nos seus
impressos, ainda que, com a chegada do Brasil ao século XX, novas ideias tenham aportado
por aqui e os tipógrafos baianos não tenham ficado imunes; ao contrário, abriram as páginas
dos seus periódicos para a exposição daquilo que já vinha, desde o século XIX,
convulsionando a Europa. As representações dos trabalhadores agremiados na Associação
Tipográfica Baiana, durante a sua trajetória iniciada no ano de 1870 e culminando no ano de
1937 (recorte definido pelas fontes encontradas), são, como escreve Roger Chartier (2002,
p. 17), “esquemas intelectuais incorporados que criam as figuras graças às quais o presente
pode adquirir sentido, o outro tornar-se inteligível e o espaço ser decifrado”. Tania Regina de
Luca escrevendo acerca das alterações que envolveram a grande imprensa no início do
século XX, chama a atenção para o fato de que a pequena imprensa não foi eliminada com
esse advento. As pequenas tipografias continuaram a existir, fazendo parte do cenário das
grandes cidades. “Temporalidades e ritmos diversos, típicos de uma modernização
contraditória e de um país plural, conviviam e articulavam-se de forma complexa” (LUCA,
2008, p. 2-3).
3. Um Órgão de Imprensa dos Tipógrafos Baianos
Nesse contexto, de “temporalidades e ritmos diversos”, é criada a
Revista da
Associação Tipográfica Baiana
, dando materialidade àquele intento que os fundadores da
Associação já nutriam desde o ano de 1870. Seus objetivos assim eram delineados:
Dedicada às artes gráficas, esta Revista se ocupará, principalmente, de
coisas que digam respeito ao desenvolvimento moral e material dos ramos
em que se subdividem as mesmas artes, acompanhando, quanto possível o
seu progredir nos países mais adiantados. Para isso, faremos aquisição de
revistas e obras, das quais extrairemos tudo que possa ser útil e
aproveitável à satisfação do nosso desejo. Trabalhando em tais moldes, a
Revista da Associação Tipográfica Baiana destina-se a prestar valiosos
serviços a quantos se interessam pelo desenvolvimento das artes gráficas
entre nós. Artigos que não se coadunem com a índole e a missão que nos
propomos cumprir – absolutamente não encontrarão lugar nestas colunas.
Queremos o progresso das artes pela propaganda ordeira e sensata, pelo
cultivo da inteligência e difusão das boas ideias. Reafirmamos aos que nos
leem que a Revista será colocada e mantida na altura da simpatia e do
prestígio de que se desvanece gozar a Associação Tipográfica Baiana. No
intuito de tornar mais interessante o nosso periódico, entre outros
melhoramentos, pretendemos criar uma seção literária, para o que
esperamos obter a honrosa colaboração de amestradas penas. Desde já
contamos com o generoso apoio da imprensa baiana, a qual, e bem assim
os dignos leitores, indultarão as faltas que forem notadas na Revista, atenta
a humildade dos encarregados de sua direção (REVISTA..., 1902a, p. 2-3).
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