Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 176

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concepção liberal, seria resultado do choque das ideias e do pluralismo dos órgãos de
informação – o que significa que os liberais rejeitavam a ideia de verdade como monopólio
de alguma instituição.
Já no século XIX, o ideário do liberalismo econômico inglês, que reivindica a
liberdade para as forças produtivas, é incorporado à liberdade de informar, que a essa altura
já era garantida aos indivíduos. Essa incorporação estende aos meios de difusão, então em
processo de transformação em empresas, a liberdade para informar. O jornalismo está
nascendo enquanto atividade industrial, aplicando os princípios da livre empresa às
empresas de comunicação.
Os liberais defendem que a democracia política e a economia capitalista garantiriam
o desenvolvimento da imprensa, que usando os princípios da liberdade de publicação e de
imprensa, garantida pela supressão de medidas administrativas preventivas usadas até
então (autorização prévia para publicar, censura e valores a serem pagos ao governo para
poder publicar), vai se transformar numa instituição capaz de defender o cidadão de
arbitrariedades cometidas pelo Estado (BULIK, 1990, p. 68).
No século XX, a doutrina liberal da imprensa, que no seu berço reivindica liberdades
individuais e a defesa do cidadão contra o Estado, vai sofrer uma alteração, para assumir a
característica de direito à informação. Nesse caso, o Estado passa a ser um fiador das
liberdades, assegurando o direito à informação, sem, no entanto, deter o controle dos canais
de difusão da informação. Os liberais entendem que a liberdade de expressão, sozinha, não
garante mais o direito dos cidadãos à informação. O direito será assegurado pela livre
expressão, mas também pela liberdade de acesso às fontes, o dever do poder público de
prestar informações à sociedade, entre outras normas que pretendem proteger o exercício
profissional do jornalismo (BULIK, 1990, p. 76-77).
A promessa do liberalismo de uma imprensa que consiga buscar a verdade e
defender o cidadão de abusos cometidos pelo Estado, transformando-se numa instituição a
funcionar dentro do sistema de freios e contrapesos, desenvolvido por Montesquieu (1996),
passa também pela capacidade dos veículos de comunicação de se viabilizar enquanto
empresas capitalistas. Segundo a visão liberal, a independência editorial é sustentada pela
independência financeira
(SILVEIRA, 2004, p. 103).
Como lembra Eugênio Bucci, essa independência editorial
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seria capaz de conquistar
a credibilidade necessária para a sobrevivência dos veículos de comunicação. Os veículos
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Independência editorial significa a capacidade de um jornal de veicular informações sem que interesses políticos ou
econômicos interfiram no conteúdo do material jornalístico, ainda que tais informações contrariem os interesses políticos e
econômicos de governantes e/ou anunciantes. Eugênio Bucci afirma que “a independência editorial é o que materializa, no
cotidiano, o instituto da liberdade de imprensa. Isto é: a democracia garante a liberdade de imprensa, e a independência
editorial é o requisito básico para que a liberdade de imprensa ganhe corpo e vida própria. A independência editorial, portanto,
tornou-se pressuposto obrigatório para que, em nome do cidadão, se investiguem se escrevam e se publiquem as notícias.”
(BUCCI, 2000, p. 58).
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