169
Embora vista com reservas por alguns, há entre os historiadores da política uma
preocupação em tomar a mídia como objeto de estudo. Numa sociedade em que a
centralidade dos meios de comunicação é reconhecida, ignorar a relevância desse objeto
dificulta a compreensão de mundo. O historiador francês Jean-Noël Jeanneney ressalta que
é importante tomar a mídia como objeto de estudo da história política pelo fato dela produzir
a representação que uma sociedade faz de si mesma (JEANNENEY, 2003, p. 213). O autor
refuta a ideia de que as questões internas da mídia fujam ao “político
stricto sensu
”, pois no
entendimento dele, os problemas que passam pelos meios de comunicação sempre
esbarram no campo político (JEANNENEY, 2003, p. 224-225).
Apesar da reconhecida relevância da mídia na sociedade moderna, ela é vista com
reserva pelos historiadores. O professor brasileiro Áureo Busetto explica a reserva com que
os historiadores encaram a mídia pelo fato dela ser vista como mera “caixa de ressonância
das instâncias políticas” e, por isso mesmo, “uma fonte menor e bastante parcial, sendo,
portanto, pouco relevante” (BUSETTO, 2008, p. 9).
Segundo Busetto, no Brasil, a história da mídia tem sido tratada em estudos de
comunicação, porém com uma série de limitações. Uma delas é que os estudos sobre a
mídia usam o contexto histórico apenas como pano de fundo, panorama histórico, ou seja,
deixam de lado as relações entre os veículos de comunicação e as outras esferas sociais
(BUSETTO, 2008, p. 11). Normalmente eles se preocupam mais com a estética dos meios
de comunicação ou o impacto das transformações tecnológicas desses veículos.
Mesmo que alguns autores reconheçam a relevância da mídia, o que justificaria
trabalhos focados nos meios de comunicação, é preciso reconhecer que existem obstáculos
para a incorporação desse objeto de estudo ao repertório da história política. A diversidade
de objetos e o desequilíbrio entre a grande oferta de materiais impressos e a escassez de
documentos que permitam analisar os veículos de comunicação por dentro são apontados
como obstáculos para os estudos sobre a mídia.
A “dispersão dos objetos”, citada por Jeanneney, ocorre pelo fato de que os veículos
da mídia impressa podem ser contados “aos milhares”, ao passo que, no caso dos meios
audiovisuais, a quantidade é menor, embora tenha ocorrido uma ampliação considerável
desde o surgimento da TV a cabo. Neste último caso, são poucos os estudos disponíveis, já
que a dificuldade, até mesmo para ter acesso aos materiais veiculados, é ainda maior que
no caso da mídia impressa. Quanto à escassez de documentos que permitam compreender
o funcionamento interno dos meios de comunicação, o autor entende que isso é fruto da
relação dos jornalistas com o tempo – o que os
[...] leva a priorizar o oral, o telefone, a conversa em relação ao escrito (a
não ser pelos próprios artigos...) e, por outro lado, dirige o espírito dos