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historiador britânico Eric Hobsbawn descreve na sua trilogia sobre o “longo Século XIX”
como a “Era das Revoluções”
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, como “jornalismo de iluminação”, referência ao iluminismo. A
expressão é usada tanto no sentido da exposição “à luz”, quanto de esclarecimento político
e ideológico (MARCONDES FILHO, 2002, p. 11). Ele se contrapõe à tentativa de quem
exerce o poder de manter segredo sobre os negócios públicos. Tal expressão marca
fortemente o entendimento de que o jornalismo incorpora as ideias modernas, como a de
que o predomínio da razão levaria a humanidade a um desenvolvimento irreversível.
No mundo ocidental, o jornalismo é influenciado pela doutrina liberal da informação.
Essa visão traduz em grande medida a aproximação entre o jornalismo e a trajetória da
modernidade. Ela é concebida num contexto de luta contra o poder absolutista, a partir do
século XVII, tendo como um dos seus marcos a publicação, pelo poeta britânico John Milton,
em 1644, de um panfleto intitulado “Aero-pagítica – Discurso pela liberdade de imprensa na
Inglaterra”, defendendo a impressão e publicação sem autorização nem censura
governamental (BULIK, 1990, p. 61-63) – que são próprias da época. A publicação desse
material é considerada um marco do enfrentamento à censura imposta pelo Estado, num
período em que o absolutismo ainda não era uma página virada. No texto, Milton diz que “se
não se empregar a prudência”, matar um homem seria o equivalente a “matar um bom livro”,
tendo em vista que o homem é uma criatura racional e o livro é portador da razão (BULIK,
1990, p. 62).
Outras fontes de inspiração da doutrina liberal da imprensa são a Declaração da
Virgínia, de 1776, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, da
revolução francesa, ambas sob influência iluminista. A declaração da Virginia consagra a
liberdade de imprensa como “uma das defesas mais poderosas da liberdade”. Nesse texto,
consta a primeira emenda da Constituição norte-americana, considerada um dos marcos da
liberdade de imprensa nos EUA, com influência no debate sobre a imprensa nas
democracias liberais: “o Congresso não fará nenhuma lei restringindo a liberdade de palavras
ou de imprensa”. A declaração francesa segue a mesma linha: “a livre comunicação dos seus
pensamentos e suas opiniões é um dos direitos mais preciosos do homem; todo cidadão pode
pois falar, escrever, imprimir livremente, ficando sujeito a responder pelo abuso desta
liberdade nos casos determinados pela lei” (BULIK, 1990, p. 66).
A doutrina liberal da imprensa se sustenta na liberdade de informação, pluralismo de
ideias e de meios de comunicação, concepção gestada no decorrer do século XVIII,
baseada no Iluminismo. O chamado liberalismo das Luzes tem como base a concepção de
liberdade e os princípios de verdade (BULIK, 1990, p 64-65). A verdade, segundo a
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A “Era das Revoluções, segundo Hobsbawn vai da Revolução Francesa, em 1789 até por volta de 1830, quando a
consolidação das revoluções burguesas faz com que a efervescência política dos tempos revolucionários dê lugar à “Era do
Capital”, marcada pela consolidação do capitalismo no mundo ocidental, particularmente na Europa.