Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 170

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Essa ampliação da ideia do político no decorrer do século XX levará os historiadores
a buscarem uma nova visão sobre esse objeto. Para buscar uma renovação que consiga dar
respostas mais consistentes, é preciso dialogar com a ciência política e a filosofia política,
onde encontramos autores que ampliam a visão do político.
Maria Mansor D´Aléssio, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de
São Paulo recorre à pensadora alemã Hannah Arendt para ampliar a visão de política. Ela
lembra que Arendt vê a política como o espaço da diversidade e para que essas diferenças
não levem ao caos, é preciso negociar. “Quando não há negociação, as diferenças levam
aos caos, impossibilitando a vida em sociedade, ou ao despotismo, através da ‘lei’ do mais
forte” (D´ALÉSSIO, 2008, p. 44).
A ideia de que a política se dá no espaço público e de que esse é o espaço de
convivência entre os diferentes, amplia a visão que se possa ter de política. Ela não se dá
mais somente na disputa do poder, mas também nas relações entre os homens. Segundo
essa ótica, a política é o “lugar de solução dos problemas surgidos da convivência entre os
homens” (D´ALÉSSIO, 2008, p. 46).
Compartilhando com a visão de que a ideia do político é mais ampla que a simples
conquista e exercício do poder, René Rémond sustenta que o campo político “ora dilata, ora
encolhe”. Nas palavras do autor,
Praticamente não há setor ou atividade que, em algum momento da história,
não tenha tido uma relação com o político. Existe uma política para a
habitação assim como pra a energia; a televisão é um investimento político,
o sindicalismo intervém no campo das forças políticas. Em torno de um
núcleo estável e restrito que corresponde grosseiramente às funções do
Estado tradicional, o campo da história política irradia em todas as direções
e libera uma multiplicidade de digitações. (RÉMOND, 2003, p. 444).
Com essa argumentação, Rémond justifica que seria equivocado representar e tratar
o político como “um domínio isolado”. A ideia de que em algum momento as diversas
atividades humanas passam pelo político ajuda a compreender a possibilidade de ampliação
dos objetos de estudo da história política, nesse processo de sua reconstrução. E, entre
eles, a própria mídia, tão usada como fonte de pesquisa. Pelas palavras de Rémond, “[...] os
meios de comunicação não são por natureza realidades propriamente políticas; podem
tornar-se políticos em virtude de sua destinação, como se diz dos instrumentos que são
transformados em armas” (RÉMOND, 2003, p. 441).
Vamos a eles.
A mídia como objeto de estudo da história
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