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atores para o mais instantâneo, matando rapidamente, na maioria dos
casos, qualquer interesse perseverante por um passado amarelecido – a
não ser por algumas anedotas. (JEANNENEY, 2003, p. 214-215).
Queixa semelhante se dá no que diz respeito às mídias eletrônicas, nas quais a
conservação do material veiculado é cara e penosa. As dificuldades impostas pela realidade
dos veículos de comunicação levam os historiadores interessados em estudá-los a optarem
por se “amoldar” a essa realidade, tratando esse desequilíbrio como se fosse “inevitável”
(JEANNENEY, 2003, p. 215).
Busetto acrescenta à “dispersão de objetos” citadas por Jeanneney o problema da
desproporção entre a fartura de materiais veiculados pela mídia e a escassez de
documentos disponibilizados a respeito das decisões tomadas internamente pelas empresas
de comunicação. Como lembra Busetto (2008, p. 19),
[...] de um lado, há uma significativa quantidade de papel impresso e
conservado na forma de jornal e revista, e, por outro, reina a pobreza
frequente dos arquivos de empresas que forneçam dados e informações
sobre a criação e o desenvolvimento de um jornal, de uma revista, de uma
emissora de rádio, de uma gravadora de discos, de rede de televisão, de
uma empresa cinematográfica.
A pesquisa histórica sobre a mídia enfrenta ainda a resistência das empresas em
abrir seus arquivos aos pesquisadores – sobretudo as empresas que continuam em
atividade. Com exceção da Rádio Nacional e das TVs educativas, que pertencem ao poder
público, há pouca documentação disponível no que diz respeitos às mídias eletrônicas, em
especial as que pertencem a empresas ainda em atividade. Já nos meios impressos, a
possibilidade de ter acesso a arquivos é um pouco maior. Um caso que chama a atenção é
o da Rede Globo, maior grupo de comunicação do país, que possui um Centro de
Documentação (Cedoc), mas, como ressalta Busetto, o acesso a essa documentação é
difícil e o trabalho realizado dentro do projeto Memória Globo visa à defesa da atuação da
emissora em episódios polêmicos da vida nacional, como no caso do movimento que ficou
conhecido como Diretas Já (BUSETTO, 2008, p. 20-21).
Possibilidades de estudo da mídia
Jeanneney entende que existem algumas possibilidades para o estudo dos veículos
de comunicação. Entre as que ele apresenta estão a questão do financiamento da mídia, ou
seja, os recursos que “mais ou menos ocultamente a irriga”, analisar as finanças da
imprensa e uma abordagem “mais fisiológica das coisas, que consiste em ver como
funcionam as influências – nascimento, vida e morte de programas, nomeações e