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afastamento dos diretores” (JEANNENEY, 2003, p. 219-220). Essas estratégias permitiriam
compreender a mídia a partir de dentro, identificando quem é quem no jogo de poder interno
das redações.
Tais estudos ajudariam a compreender as decisões editoriais que determinam os
conteúdos veiculados pela mídia. É preciso entender as relações da mídia com os órgãos
públicos e mesmo suas relações internas, os jogos de força entre a equipe do patrão e o
contrapoder exercido, por exemplo, pelos sindicatos. Isso porque o entendimento de que a
mídia seja um bloco homogêneo – e não é – pode levar a equívocos. Outra possibilidade
apontada pelo autor seria um estudo mais detido sobre como os jornalistas formam as suas
opiniões. Um estudo mais aprofundado sobre os meios de comunicação poderia levar a uma
compreensão do seu funcionamento.
Trazendo o debate para a historiografia brasileira sobre mídia, Busetto encontra o
mesmo problema: a ideia equivocada de que os meios de comunicação são um bloco
homogêneo. Esse entendimento leva a análises limitadas, já que a concorrência entre os
veículos de comunicação, a disputa entre as diferentes mídias pela atenção da audiência e
mesmo as disputas internas que ocorrem dentro da redação de um veículo de comunicação
(BUSSETO, 2008, p. 15), abrem margem para uma diversidade de visões e opiniões dentro
do próprio campo da comunicação.
Diante das dificuldades para o estudo da mídia, Busetto propõe uma perspectiva
teórico-metodológica para enfrentar a questão. Em primeiro lugar, ele ressalta que é preciso
ampliar o foco de análise, indo além dos conteúdos veiculados pela mídia. O historiador
precisa compreender a estrutura e a dinâmica dos meios de comunicação, assim como as
relações que “tornaram socialmente possível os vários e diferentes veículos midiáticos”,
tanto as relações internas desse mundo, quanto “as desempenhadas no universo que o
engloba” (BUSETTO, 2008, p. 16-17).
Para tanto, é preciso compreender sócio-historicamente as relações internas ao
veículo de comunicação, seu organograma; as relações dos veículos com seus
concorrentes diretos; as relações com o domínio político e o econômico; e as relações do
veículo de comunicação com o seu público. Com isso, o historiador do político pode superar
a visão – e o preconceito – de que a mídia seja apenas uma caixa de ressonância da vida
política e entendê-la como um “agente integrado do domínio da política”, que “disputa com
os demais agentes do mundo político o poder de impor, ao mesmo tempo e de maneira
simbólica, uma visão social de mundo particular como geral e de dividir e classificar o
mundo social” (BUSETTO, 2008, p. 19).
Para entender a mídia