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criado pelos norte-americanos na década de 1920, na revista semanal
Time
e prevalece até
hoje no cronograma de algumas das grandes empresas de comunicação
8
. Trata-se do
“Método igreja-estado”, que visa separar a redação do setor publicitário da empresa
jornalística, garantindo, assim, que os interesses de anunciantes não interfiram no conteúdo
editorial do veículo. Na metáfora criada por Henry Luce, dono e fundador da
Time
, a “igreja”
seria a redação, o jornalismo, ao passo que o “estado” seria o setor comercial, o negócio
(BUCCI, 2000. p. 60-61).
Entender a imprensa por dentro
A ideia de estudar a mídia por dentro, para saber como são tomadas as decisões
editoriais, como defendem Busetto e Jeanneney, encontra eco em alguns teóricos do
jornalismo. Entre os vários estudos sobre a mídia que buscam compreender por que “as
notícias são como são”, Nelson Traquina (2004) destaca a chamada “Teoria
Organizacional”, proposta pelo norte-americano Warren Breed. Ele parte do pressuposto de
que a forma de organização do trabalho na redação “socializa” e enquadra os jornalistas na
linha editorial do jornal (TRAQUINA, 2004, p. 152).
Nessa visão, os “constrangimentos organizacionais sobre a atividade profissional do
jornalista” levam-no a se conformar “com as normas editoriais da política editorial da
organização” (TRAQUINA, 2004, p. 152). Seguindo esse raciocínio, o jornalista “socializado”
na política editorial da organização por meio de uma sucessão sutil de recompensas e
punições. Esse sistema faz o profissional assumir para si a linha editorial do veículo de
comunicação.
O autor identifica que, sempre que o jornalista cumpre as tarefas em conformidade
com a linha editorial da empresa em que trabalha, é recompensado tendo o seu trabalho
destacado, por exemplo, com a ocupação de espaços mais nobres dentro do jornal
(manchetes, chamadas de capa) e assumindo tarefas consideradas mais relevantes dentro
da organização, como por exemplo, ser destacado para fazer reportagens reconhecidas
dentro do campo jornalístico como mais relevantes. Por outro lado, a não conformidade com
a linha editorial, relega o trabalho do jornalista a uma posição menos privilegiada, além da
“alteração de reportagens, cortes, reescrita de textos” (TRAQUINA, 2004, p. 153).
Considerações finais
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O “método estado-igreja” é usado no jornalismo brasileiro até hoje. O manual de redação da
Folha de S. Paulo
, por exemplo,
no verbete “publicidade”, informa que “a redação e a publicidade da Folha são departamentos autônomos, sem relação de
subordinação. Apenas a Secretaria e a Direção de Redação estão autorizadas a manter contato com a Publicidade. A
Publicidade tem prioridade na divisão do espaço do jornal. É ela quem determina o espelho da edição. Mas não se deve
subordinar o trabalho jornalístico aos interesses, presumidos ou manifestos, de anunciantes. A
Folha
não produz matérias
pagas e não publica material publicitário sem deixar claro para o leitor essa condição” (Folha de S. Paulo, 1992, p. 21).