Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 185

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privilégios”; outra vertente relacionava-se a um olhar em perspectiva, ou seja, a necessidade
de organizar-se para fugir às adversidades oriundas das relações capitalistas que se
consolidavam na sociedade baiana e brasileira, e que geravam uma série de desconfortos
profissionais e insegurança quanto ao dia de amanhã, mas que não mais podia conceber a
rigidez peculiar às corporações de ofício extintas, no Brasil, em 1824. Nessa última vertente,
o objetivo é o socorro mútuo num primeiro momento, mas que deveria ser incrementado
com a criação de um órgão de imprensa que defendesse os interesses e instruísse os
associados da Tipográfica Baiana.
As três “classes” ali representadas na fundação da Associação – tipógrafos, livreiros
e litógrafos – compunham o que se poderia chamar de campo das artes gráficas. No que
tange à manutenção de privilégios e a uma reserva de mercado para os artistas gráficos,
pode-se perceber, sobretudo na preocupação com o esmero nos resultados dos trabalhos
realizados e na devida qualificação dos membros do ofício, a tentativa de não abrir-se para
qualquer um a possibilidade de exercício da atividade de tipógrafo. Torna-se patente esse
intento de preservação do mercado de trabalho vinculando a qualidade dos serviços
prestados ao mercado das artes gráficas e a apropriada instrução aos membros do ofício.
Para isso, era necessária a boa formação dos aprendizes de tipógrafo e o rigor nos exames
de qualificação. O fundador Joaquim Hyppolito acrescentava no seu discurso que “outra
necessidade imperiosa” era a de pensar-se no “mau sistema de aprendizagem” que à época
era “usado”. Segundo ele,
Meninos, que, às vezes, mal sabem ler, e sem moralidade alguma, são
admitidos nas tipografias, sem que para isso preceda o mais ligeiro exame.
Melhorar esse sistema, sujeitá-lo a regras especiais, a fim de que os futuros
esteios do invento precioso do imortal Gutenberg satisfaçam os preceitos
dessa sublime arte – é uma das medidas mais importantes a que devemos
prestar consideração (REVISTA..., 1903b, p. 37).
Diante do exposto, nota-se a atenção voltada tanto para aspectos técnicos quanto
outros relativos à conduta dos indivíduos. A necessidade e o cuidado para com o fato de o
tipógrafo ser relativamente bem instruído, além de prestigiar o ofício, convinham aos
objetivos de resguardar o mercado para um número restrito de artistas gráficos. A
precedência de um exame remonta às práticas das corporações de ofício. O sistema deveria
ser submetido “a regras especiais”. Preocupações típicas daqueles que, ao longo da
história, vinham perdendo privilégios outrora garantidos. Os futuros “esteios” da imprensa
deveriam estar qualificados para atender aos “preceitos” da sublime arte que era a de ser
tipógrafo, arte da qual o inventor da imprensa era seu pioneiro. A dignidade do ofício de
tipógrafo, cultivada desde a modernidade, não foi olvidada durante o século XIX.
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