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enquanto objeto da história foi se disseminando aos poucos e o estudo de trajetórias
individuais passou a ser incorporado ao modelo das dimensões estruturais de longa duração
dos
Annales
(AVELAR, 2010, p. 157).
Sobre essa questão, Dosse (2009) destaca que até o final da década de 1980 o
gênero biográfico era objeto de críticas até mesmo entre historiadores que não faziam parte
dos
Annales
. Todavia, “Nos anos 1990, os historiadores eruditos, autores de biografias, já
não precisam se justificar junto a seus pares por ter escolhido esse gênero, que não
constitui mais objeto de depreciação. Ao contrário, tendem a aumentar-lhe o valor.”
(DOSSE, 2009, p. 104).
Em relação à concepção da existência de uma oposição entre o indivíduo e a
sociedade Del Priore defende ser essa uma falsa concepção, pois o indivíduo não se
constitui de forma solitária (DEL PRIORE, 2009, p. 10). Concordamos com a autora no
sentido de que a vida do indivíduo se encontra inserida numa rede de relações sociais que
atravessam a existência desse sujeito ao mesmo tempo que esse indivíduo atua no meio
social a que pertence.
Acerca do modo de pensar as relações entre indivíduo e sociedade, há uma
aproximação entre Avelar (2010) e Del Priore (2009), uma vez que esta última defende uma
concepção segundo a qual as biografias servem, para aqueles que se debruçam sobre elas,
para que os historiadores possam resolver problemas como: a contradição entre ideias,
representações e práticas sociais e, além disso, encontrar um equilíbrio entre o biografado,
seu livre arbítrio, suas intenções pessoais e a escala mais ampla da esfera cultural na qual
está inserido (DEL PRIORE, 2009, p. 11).
A biografia ressurge, nos últimos anos, como uma possibilidade de compreensão do
passado, entretanto, é preciso ressaltar que a concepção e os objetivos da biografia não se
limitam à narração de acontecimentos da vida dos biografados, mas sim à dialética entre o
individual e o social, entre o biografado e seu contexto.
Como objeto da história, a biografia ressurge, mas ainda é detectada uma
insuficiência de estudos que se debrucem sobre a problemática da escrita da história na
biografia, conforme afirma Silva:
Ao mesmo tempo em que as biografias se tornam um fenômeno editorial e
um campo revalorizado pela historiografia contemporânea tal fato tem sido
pouco estudado no meio acadêmico, ou seja, a crescente demanda
sociocultural pelas publicações de natureza biográfica, no qual intelectuais,
políticos, aventureiros, cientistas, poetas, escritores e artistas passam a ser
alvo da curiosidade pública sobre esses indivíduos ou sua época na
esperança de encontrar no outro um reflexo de si mesmo, assim como a
forma como o biografismo é exaltado, vilipendiado e exercido no meio
acadêmico, não têm sido encaradas como objetos.
(SILVA, 2011, p. 2).