Anais do VII Encontro do Cedap – Culturas indígenas e identidades - page 187

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A enunciação dos objetivos da Revista permite perceber os limites e liames em que
se enquadravam as perspectivas dos tipógrafos (pelo menos daqueles que fundaram a
Revista) na cidade do Salvador no ano de 1902. A tônica inicial na escrita é
hegemonicamente a de atingirem-se os objetivos de instrução técnica e moral. Foi uma
constante nas páginas desse periódico um tom conciliador que evitava o confronto entre
grupos sociais. Quando se fez a reserva de obstar-se a publicação de artigos que não se
coadunassem com a índole e a missão a que os administradores da Revista se propunham
a cumprir, antevê-se a tentativa de não explorar os conflitos e contradições que pairavam
não somente sobre as relações de trabalho, mas, como observou Darnton (1986, p. 113),
aos elementos dos rituais e do simbolismo popular ou, especificamente, às visões e
representações dos tipógrafos que porventura evidenciavam as clivagens no mundo do
trabalho.
O progresso das artes deveria ser construído por meio da “propaganda ordeira e
sensata”. As “más” ideias, ou as ideias “perigosas”, não haviam de ter lugar nas páginas da
Revista. O prestígio e simpatia da Associação Tipográfica Baiana deveriam ser mantidos e
cultivados pelo seu órgão de imprensa. Ela, que outrora contou entre seus sócios honorários
a figura de Ruy Barbosa (REVISTA..., 1903a, p. 170
)
, não deveria ter seu nome e imagem
maculados por qualquer artigo publicado sem a devida vigilância e controle do seu
conteúdo. Percebe-se que, naquele contexto de deferência, o prestígio social da Associação
era algo de valor para Diretoria e consócios da Tipográfica Baiana. Lá na sua Instalação, na
data de 16 de abril de 1871, a presença do vice-presidente da Província, o Dr. Francisco
José da Rocha, foi algo simbolicamente notável, até porque a presidência da Sessão
Inaugural foi franqueada a essa autoridade do Governo Provincial ali presente. Longe de se
fazer juízos de valor com esta análise do texto com os objetivos da Revista, mas ao
contrário, procura-se fazer o exercício de tentar compreender as condições em que viviam
aqueles homens que se dedicavam ao ofício de tipógrafo, proporcionando esclarecer as
ações possíveis de um grupo de trabalhadores dentro de um contexto restringente. Até
porque, nas páginas da Revista, em muitos momentos encontram-se registros da
insatisfação dos tipógrafos com as relações de trabalho estabelecidas pelos proprietários
das oficinas tipográficas. Em trecho do primeiro Relatório de Exercício da Associação
publicado na Revista, podemos comprovar as tensões entre trabalhadores e seus patrões:
“Devemos proceder a estudos sérios para melhorar o sistema de trabalho que nos impõem
os proprietários de tipografias com prejuízo nosso, sem que a paga, mesquinha como é,
corresponda a esse mesmo trabalho” (REVISTA..., 1903a, p. 169). Corroborando a ideia de
que a Associação Tipográfica Baiana, muitas vezes, extrapolava seus objetivos estatutários
e ampliava seu discurso para além daquilo que era típico às associações mutualistas, essa
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