A um tempo sem qualidades, como aquele em que vivemos, seria no mínimo
legítimo exigir poetas sem qualidades. [...] Estes poetas
não
são muita coisa.
Não são, por exemplo, ourives de bairro, artesãos tardo-mallarmeanos,
culturalizadores do poema digestivo, parafraseadores de luxo, limadores das
arestas que a vida deveras tem. Podemos, pelo contrário, encontrar em todos
eles um sentido agónico (discretíssimo, por vezes) e sinais evidentes de
perplexidade, inquietação ou escárnio perante o tempo e mundo em que
escrevem. [...]
Comunicam
, em suma; não pretendem agradar ou ser
poeticamente corretos (FREITAS, 2002, p. 9, 14 e 15).
O poeta Rui Pires Cabral
4
, que teve sete de seus poemas reproduzidos nessa
antologia, tornou-se uma das referências para uma tentativa de entendimento da atual
poesia produzida no além-mar, tematizada em artigos e livros como os de Rosa Maria
Martelo, que publicou, em 1999, um artigo nomeado “Anos noventa: Breve roteiro da
novíssima poesia portuguesa” (MARTELO, 1999). De viés panorâmico, o texto
direcionou um olhar crítico à seleção de vozes representativas no final do “século de
ouro da poesia portuguesa”, no qual a autora ponderou acerca das tendências poéticas
daquele país no final do século XX ao mencionar nomes de poetas que publicaram a
partir da década de 1990, além de também expor notas críticas sobre tais produções
literárias. Registro nominativo de autores como Ana Luísa Amaral, Fernando Pinto do
Amaral, Luis Quintais, Rui Pires Cabral e outros (MARTELO, 1999, p. 233-35) que,
hoje, treze anos após a sua publicação, já são conhecidos por estudiosos dedicados à
poesia portuguesa contemporânea. Em meio a pluralidades de nomes, obras, estilos e
temáticas, a intelectual portuguesa atentou para o que poderiam ser elementos de um fio
condutor desse momento literário:
[...] a memória pessoal e literária, a valorização da experiência subjectiva, a
exploração do fragmento narrativo subitamente revelador, a contraposição do
poder criativo da linguagem a uma experiência existencial ou ontológica de
perda, de desencontro e de ruína, o recuo pelo humor e pela ironia são
elementos que parecem essenciais para caracterizar globalmente a poesia
portuguesa mais recente. (MARTELO, 1999, p. 233)
4
Poeta e tradutor nascido em Macedo de Cavaleiros, Portugal, no ano de 1967. Publicou sete livros de
poesia:
Geografia das estações
(edição de autor, 1994),
A super-realidade
(edição de autor,1995),
reeditado em dezembro de 2011 pela editora portuguesa Língua Morta,
Música antológica & onze
cidades
(Presença, 1997),
Praças e quintais
(Averno, 2003),
Longe da aldeia
(Averno, 2005),
Capitais da
solidão
(Teatro de Vila Real, 2006) e
Oráculo de cabeceira
(Averno, 2009). Como tradutor de língua
inglesa, destacam-se seus trabalhos com os livros
Uma Casa no Fim do Mundo
,
Sangue do Meu Sangue
e
Dias Exemplares
de Michael Cunningham. Seus poemas estão presentes em antologias e revistas
literárias portuguesas com destaque para
Anos 90 e agora: uma antologia da nova poesia portuguesa
(Edições Quase , 2001),
Poetas sem qualidades
(Averno, 2002) e, também, nos números 2, 4, 6, 8, 10, 12
e 14 da revista “Telhados de Vidro”, publicada pela editora Averno. Além disso, no Brasil, há presença de
poemas na nona edição da revista brasileira
Inimigo Rumor
(2002) e do segundo volume da antologia
Portugal, 0
(Oficina Raquel, 2007).
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