persiste, mesmo no momento de revisão, pois existe uma influência que está mais para
um modelo nunca alcançado, e que é o motivo de certa “travessia cega de um desejo
incurável”, e que se apresenta no decorrer da obra poética de A.F.F. Os poemas de
Raro
mar
, seguindo uma tendência começada na parte “nominal” de
Numeral/Nominal
,
centralizam esse modelo do
outro-a-se-medir
totalmente na poesia de Carlos
Drummond de Andrade.
Os nomes de Ana C. e de Drummond, dessa forma, não se chocam nas
dualidades dessa poesia reescrita, já que a força poética incorporada de Ana C. é
aplicada na busca do desejo incurável que é, para A.F.F., a poesia de Drummond.
Devemos rever, então, em
Numeral/Nominal
a declaração dessa influência definitiva,
como o título de um poema indica, que é o “DNA CDA” (FREITAS FILHO, 2003d, p.
64).
Dessa forma, na reescrita de A.F.F., de um lado temos a enxertia da presença
morta de Ana C., e do outro, temos a presença inquestionável de Drummond como
modelo exemplar de poesia. E como o “DNA CDA” correndo nas veias que escrevem
seus versos, a declaração da veneração por Drummond aparece em vários outros
poemas, como em “O observador do observador, no escritório
”,
em que o eu lírico diz
que “Drummond é o cara [...]” (FREITAS FILHO, 2006, p. 28). Ou no poema
“Releitura”, em que há uma reflexão sobre a leitura da poesia de Drummond, que para o
eu lírico revisor de A.F.F., “quem relê Drummond é sempre um outro”. A referência se
torna então um “drummondicionário em perpétua elaboração” (FREITAS FILHO, 2006,
p. 30).
O poeta inicia assim, de
Numeral/Nominal
à
Raro mar,
um traçado de rumos
diferentes em sua poesia. Poesia e vida, e poesia e morte dualizam em seus versos. A
maturidade também traz à tona a consciência do fazer poética e transforma as
implicações das vozes consoantes e dissonantes em sua arte poética. Não só
incorporações, mas negações também surgem como consequência das inconstâncias
poéticas de Armando Freitas Filho, como bem analisou em seu estudo Eduardo Losso
(2002). Drummond, então, é a variação que nunca é externa nessa poesia. Pelo
contrário, ele faz parte de um “desejo incurável” que se torna o próprio núcleo da poesia
de Armando Freitas Filho.