os títulos dos livros (Nominal); reproduz a taxionomia imposta pela própria
estrutura do livro, além de remeter claramente aos principais caracteres de
uma máquina de escrever,
letras e números
. Logo, o título e a estrutura de
Numeral/Nominal
desdobra semanticamente a idéia do título de
Máquina de
escrever
, duplicando a obra reunida dentro de si mesmo, de dentro da
própria obra, da forma mais dependente, quer dizer, íntima. Nesse caso,
Numeral/Nominal
, diferente de
Máquina de escrever
, possui ser-em-si, mas
mediado pelo seu ser-para-o-outro.
Numeral/ Nominal
pode ser interpretado
como uma maquete, uma duplicata miniaturizada da obra e também um
corpo estranho à mesma por ser o primeiro livro (e talvez o único até a obra
se completar) a ter um contexto de suporte especialmente diferente dos
outros (LOSSO, 2003, p. 252).
Numeral/Nominal
não fornece sentidos de uma obra poética se não pensada
como ponto de revisão na poesia de Armando Freitas Filho. O poeta propõe essa revisão
em plena invenção de sua obra poética. É uma peripécia de uma consciência poética em
auto-revisão. O autor procura justificar essa manobra poética na contracapa de
Máquina
de escrever
, e afirma:
[...] Ao organizar este volume – que se abre com
Numeral/Nominal
, uma coletânea inédita –, [...] tive a sensação que trabalhava com
duas facas: a de cirurgião e a de caçador. Só espero não as ter confundido, muitas
vezes”. (FREITAS FILHO, 2003e).
A revisão é declarada, tanto no subtítulo da reunião (“poesia reunida e revista”),
quanto no texto de contracapa que A.F.F. fornece. As facas mencionadas, por sua vez,
são referências diretas das poesias de João Cabral e Carlos Drummond, como afirma o
próprio autor em entrevista concedida ao programa
Veredas
Literárias (2000).
Outros suportes são acrescentados na reunião, como a junção de textos de
Sebastião Uchoa Leite sobre a evolução da obra poética de A.F.F., agora inseridos como
textos de orelha de
Máquina de escrever
. Viviana Bosi (2003) também apresenta uma
releitura na introdução da reunião, levando em conta textos dela própria sobre a poesia
do autor, publicados anteriormente em revistas literárias.
O leitor que começa sua leitura pela
Máquina de escrever
, e não como o leitor
mais antigo, que lia as coletâneas de poemas sem orientações da crítica ou do próprio
poeta, vai ter a comodidade de encontrar tudo reunido, explicado e referenciado pelo
autor e, também, pela crítica especializada elencada por ele mesmo para explanar os
percursos poéticos de sua obra literária. Essa condição de revisão e orientações nos leva
a considerar esse período como um período de revelações nesta obra poética. No poema
3
da parte “numeral” de
Numeral/Nominal
, lemos a visão de escrita que oferece a poesia
de
Numeral/Nominal
:
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