de conhecer como um composto de ação e transformação, ou seja, o fenômeno artístico
depende da consciência que o cria, analisa e descreve, porque se dá por meio dela e só existe
na medida em que essa consciência transforma a experiência vivida em expressão artística.
Ação e transformação são as palavras-chave para o testemunho de linguagem e para a
metamorfose.
Considerações finais
De acordo com a leitura do poema, fica patente que o passo inicial para por em
funcionamento a transformação da realidade material está em assumir uma postura indagativa,
ou ainda, em promover a dúvida como única atitude possível. A essa especulação incessante
atrela-se a imaginação e a palavra poética surge para metamorfosear o passado em presente.
Essa postura não está distante daquela que Sena define, no “Ensaio de uma tipologia
literária”, como a posição do modernista. Assim, ao se referir à famosa
Querela dos Antigos e
Modernos
que redundou na distinção entre clássico e moderno, Sena afirma que essa distinção
não é válida, uma vez que clássico não pode ser considerado sinônimo de conformismo, como
decorre daquela distinção em que moderno representaria uma nova atitude. Assim, para Sena,
a oposição correta deveria dar-se a partir de uma situação ético-estética, em que à modernista
― e não moderno, que para ao autor não é válido como classificação ― opõe-se
academicista. Enquanto o primeiro é “toda uma atitude específica, que criticamente põe em
causa, para fins estéticos, os dados da consciência, da sensibilidade e da cultura” (SENA,
1977, p. 37); academicista corresponde àqueles que buscam uma fixação de regras e valores
estéticos. Na leitura do
Ante-metamorfose
, um poeta-arqueólogo assume essa postura ético-
estética modernista ao investigar o corpo do primeiro Homem. Para além da confecção de
manifestos, em que há o estabelecimento de um projeto estético, antes mesmo de sua efetiva
realização, Sena defende a poesia como uma atitude de crítica permanente frente à realidade.
Referências
BARTHES, Roland.
Mitologias
. Tradução Rita Buongermino. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2001.
CARLOS, Luís Adriano.
Fenomenologia do discurso poético. Ensaio sobre Jorge de Sena
.
Porto: Campo das Letras, 1999.
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