poemas que compõem o volume de
Metamorfoses
. Nele, encontramos o poema
Ante-
metamorfose
cuja leitura e interpretação explicita em que medida uma postura perscrutadora
adquire importância para a transformação da realidade. Na mesma medida, esse poema realiza
o que Sena define, no “Ensaio de uma tipologia literária” (1959-60), como uma situação
ético-estética modernista.
Metamorfoses
Sétimo livro de poemas publicado pelo poeta português Jorge de Sena (1919-1978), as
Metamorfoses
(1963) diferenciam-se sobremaneira da produção poética anterior. No livro,
não só o vetor da metamorfose aparece como eixo temático e estrutural, mas também os
poemas produzem-se a partir de referenciais artísticos. Assim, a questão da transformação das
formas é primacial, ocorrendo por meio da transmutação verbal que a poesia opera. Nos vinte
poemas que compõem o livro, vemos pinturas, esculturas, construções de valor arquitetônico,
entre outros artefatos, serem metamorfoseados em palavra poética, valendo-se para isso de
uma meditação aplicada. Ao olhar para esses objetos, entendendo-os como parte da herança
cultural legada a todos os homens, o poeta dirige a poesia no sentido de uma compreensão da
“historicidade humana” (SENA, 1988, p.152). As metamorfoses são, assim, não só a mudança
de um meio artístico para outro, mas também uma cosmovisão do tempo em que passado,
presente e futuro encontram-se conectados.
O livro estrutura-se a partir de uma oposição entre uma ideia de anterioridade e outra
de posterioridade, que enquadram as metamorfoses em si, ou seja, os vinte poemas
produzidos a partir da meditação aplicada sobre objetos de arte. Assim, abre o livro uma
Ante-
metamorfose
e fecha-o uma
Post-metamorfose
1
. A primeira é constituída, por paratexto
autoral, pela evocação do poema “Metamorfose”, do livro
Fidelidade
(1958). Segundo Sena
(SENA, 1988, p. 53, grifos nossos): “Com este título [o de Ante-metamorfose] foi aqui
incluído, como abertura do volume, o poema Metamorfose, pertencente a Fidelidade, onde
figura ―
e que deve de facto ser relido antes das «metamorfoses» que se seguem
”. A
leitura interpretativa desse poema é o que propomos a seguir.
Da análise
1
Há nessa ordem os “Quatro sonetos a Afrodite Anadiómena”, que Sena (1988) chamou de “supra-
metamorfose”, mas que não fazem parte de nosso estudo.