apresentação, tendo recebido uma matéria no Diário de Pernambuco, em que o caráter
filosófico e o nível de exigência requerido do leitor são ressaltados. (PAIVA, 2003)
Em nota bibliográfica ao fim do volume
Dialécticas teóricas da literatura
(1977), em
que o ensaio se encontra em caráter definitivo, ― tendo sido acrescentado um apêndice com
uma análise tipológica de um soneto de Camões ―, Sena trata de nos informar a respeito do
Congresso, da pequena distribuição que teve entre os congressistas e do caráter de
“amplificação escrita” das aulas ministradas que o texto guarda. Esse movimento nos dá a ver
a primeira iniciativa do crítico Jorge de Sena para participar da formação dos estudos
literários no Brasil, construído a partir de universidades. O “Ensaio de uma tipologia literária”
surge como resposta de Sena à demanda de uma organização teorética, em que se possa
pensar o fenômeno literário como um construto formal em que entra uma perspectiva histórica
mediada dialeticamente, numa tentativa de ultrapassar o historicismo. Se Sena o expande
posteriormente, para uma utilização ampla em obras de arte é porque o ensaio constrói-se sob
uma visão de totalidade, ou seja, que considera as partes para articulá-las numa perspectiva
que busca englobar, tanto quanto possível, a realidade do fenômeno observado.
Assim o “Ensaio de uma tipologia literária” é uma tentativa de aclarar determinadas
confusões estabelecidas na utilização dos termos literários, ou seja, na perspectiva seniana
faz-se necessário ordenar o caos que impera, quando tentamos analisar esteticamente um
objeto literário. Para chegar a resolver essa ambição, Sena propõe como método superativo
uma
tipologia literária
composta por
atitudes antitéticas
que atuam a partir de
planos de
análise
. Dessa forma, a mirada crítica seniana acerca do fenômeno artístico será pautada por
uma historicidade baseada em uma lógica dialética e também por uma percepção
fenomenológica. Para Sena (1977, p. 201):
Em nenhuma época foi possível, pela estrutura do conhecimento (não
importa, e é secundário, se isso corresponde ou é a estrutura interna da
realidade mesma, ou a maneira que, condicionados pelos nossos
instrumentos de conhecer, nós possuímos de aprendê-la e descrevê-la), que
algo existisse sem que por sua mesma existência não suscitasse o seu
contrário. E isto é a dualidade fundamental, constantemente superada (em
progressão ou regressão), da própria existência humana de que toda a
descrição da realidade inteiramente depende. Mas não só a descrição dela,
como ela mesma, já que nada pode conhecer-se que o próprio conhecimento
não transforme.
Com isso, percebem-se dois movimentos que cingirão, não só o “Ensaio de uma
tipologia literária”, mas também toda a obra seniana. O primeiro deles trata dessa “dualidade
fundamental” inerente à história e, consequentemente, ao tempo; e o segundo reconhece o ato
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