Para Candido (1995, p. 256), “a literatura corresponde a uma necessidade universal
que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos
sentimentos e à visão do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos
humaniza”, afirmando ainda o seu poder como “instrumento consciente de desmascaramento,
pelo fato de focalizar situações de restrição de direitos ou de negação deles, (a miséria, a
servidão, a mutilação espiritual)”
De acordo com Cosson (2011, p. 17), a literatura possui a “função maior de tornar o
mundo compreensível, transformando sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores
e formas intensamente humanas”, afirmando ainda o “papel humanizador” que ela tem.
Todorov (2010, p. 94) postula que “a nós, adultos, nos cabe transmitir às novas gerações essa
herança frágil, essas palavras que ajudam a viver melhor”.
Assim, pensar em literatura é perceber os efeitos que ela nos causa, as mudanças que
ela nos propicia, os prazeres e desprazeres que ela nos oferece, o panorama social que ela nos
mostra. Nesse sentido, dizer que literatura “
é”
não nos parece possível.
Entendemos que letramento é o estado em que vive o indivíduo que faz uso das
habilidades de leitura e escrita nas práticas sociais (SOARES; 1998, p. 26). Desse modo,
percebemos que um sujeito letrado é aquele que lê e interpreta um texto levando em conta o
contexto de produção. Ou seja: quem é o autor do texto, onde e quando o escreveu, para quem
o fez, qual a intenção do enunciador; é aquele que sabe ainda utilizar a escrita de maneira
adequada (e o termo “adequada”, aqui, não se refere à norma padrão da língua) em diversas
situações comunicativas, tanto no que diz respeito à forma quanto ao conteúdo.
Notamos, portanto, a amplitude do conceito de letramento. Se o processo de
alfabetização está pronto e acabado com a aquisição de leitura e escrita da língua, o processo
de letramento é contínuo e interminável. Isso porque, com o passar do tempo, todo indivíduo
tende a deparar-se com diversos gêneros textuais, de diferentes esferas discursivas. Temos,
assim, níveis de letramento: quanto maior a familiaridade e domínio de situações
comunicativas, mais alto é o nível de letramento.
Segundo Cosson (2011, p. 27),
[...] no ato da leitura está envolvido bem mais do que o movimento individual dos
olhos, mas também com a sociedade onde ambos estão localizados, pois os sentidos
são resultado de compartilhamentos de visões do mundo entre os homens no tempo
e no espaço.
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