transforma a relação dos velhos leitores de Armando com a obra e provoca
os novos no tratamento estético da relação entre obra, suporte e título
(LOSSO, 2003, p. 251-252).
Enfim, o processo de revisar sua própria escrita acaba revelando, a partir dessa
reunião, muitos traços e características das vozes que acompanham a obra poética de
A.F.F. No início a menção era tímida e inconfessa, sendo apenas detectada pelas
epígrafes que abrem os livros do autor. Mas a máquina não é iconizada, cremos, para
delimitar um fim para a produção do poeta, e determinar: é isto, as perspectivas de
minha poesia são estas, e os nomes que lhe marcam são estes. Ao que parece, ao
duplicar-se com
Numeral/Nominal
, essa poesia pretende não acabar, ou se acabar, e sim
ampliar seus horizontes por meio de revisões e revelações. É por isso que a coletânea de
poemas publicada após a
Máquina de escrever
,
Raro mar
(2006), apresenta uma
continuidade da reescrita poética iniciada em
Numeral/Nominal
.
O ponto de ligação estética da poesia reunida com o livro
Raro mar
(2006), no
entanto, é marcado por contradições sobre tendências anteriormente presentes na
poética de Armando Freitas Filho. Por isso que em
Raro mar
, logo no primeiro poema
da coletânea, a receita da poesia e do fazer poético do autor parece ser outra:
Outra receita
Da linguagem, o que flutua
ao contrário do feijão à João
é o que se quer aqui, escrevível:
o conserto das palavras, não só
o resultado final da oficina
mas o ruído discreto e breve
o rumor de rosca, a relojoaria
do dia e do sentido se fazendo
sem hora para acabar, interminável
sem acalmar a mesa, sem o clic
final, onde se admite tudo –
o eco, o feno, a palha, o leve –
até para efeito de contraste
para fazer do peso – pesadelo.
E em vez de pedra quebra-dente
para manter a atenção de quem lê
como isca, como risco, a ameaça
do que está no ar, iminente.
(FREITAS FILHO, Armando. 2006, p. 19).
Segundo João Camillo Penna (2006), o livro
Raro mar
pode ser definido como
um livro que retrata um olhar angulado pelo mar do Rio de Janeiro em recuo. Ali, o que
fica a mostra é um “chão surpreso”. A metáfora do mar em recuo e a menção do chão
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