Muitos sins e nãos foram influenciados pelo arcabouço formador e reformador dessa
senhora que anseia por ser vista, revista e “revisitada” pelo maior número possível de pessoas,
pessoas ávidas por retirar-lhe as capas e descobrir-lhe o verdadeiro rosto.
Verdadeiro rosto, verdadeiras marcas. Eis o propósito deste trabalho, tentar mostrar o
verdadeiro rosto e as verdadeiras marcas de uma das flores que compõe o campo da literatura:
a poesia; não da poesia como um todo, mas sim tentar mostrar a poesia de uma das maiores
poetisas brasileiras do século XX, Cecília Meireles. Cecília Meireles foi uma das poetisas
brasileiras que mais se destacou tanto no Brasil como em países como Portugal, além de
outros países, por sua poesia de estilo sóbrio, feminino e delicado.
Por esse motivo muito já foi pesquisado sobre a poesia de Cecília Meireles e sobre as
várias facetas que tal poética apresenta.
Mas a proposta que será analisada por este trabalho constitui uma nova perspectiva
nos estudos da poética ceciliana, pois se trata de tentar fazer uma ponte entre tal poética e a
filosofia, a corrente existencialista em especial.
Sabe-se que não se pode falar em
influência
do Existencialismo na poesia de Cecília
Meireles, pois nessa expressão está contida a idéia de que Cecília conheceria essa corrente
filosófica, o que não é possível, sendo a filosofia de J. Paul Sartre posterior às obras da
poetisa. No entanto, este trabalho levará em consideração um ensaio de Sartre intitulado
Humanismo é um Existencialismo
, no qual o autor afirma que o humanismo – este
compreendido genericamente como uma série de valores e ideais relacionados à celebração do
ser humano, muito difundido na Europa no século XIV – teve características que ele considera
bem próximas as que sua filosofia defende. Dessa maneira, constatou-se que é possível falar
em existencialismo na poesia ceciliana.
A escolha da corrente filosófica que será trabalhada juntamente com a poesia de
Cecília advém, entre outras coisas, do universo sensorial evidenciado de uma maneira muito
forte nos poemas da mesma, poemas que inundam o leitor com um universo de sensações
deixando-o extasiado em tantas sensações apreendidas pelos cinco sentidos, às vezes, de uma
só vez, pois é por meio deles que se evidencia a perspectiva da poetisa frente ao mundo.
Certas preocupações do eu lírico tais como a oposição entre o efêmero e o eterno,
evidenciadas nos poemas, também contribuíram para a escolha, afinal, segundo o pensamento
de Jean Paul Satre o saber-se finito faz parte da angustia humana.
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