mágoa em alguém, talvez por essa cobrança de que deveria ter esse eu-lírico por mais tempo
no pensamento.
Dentro da perspectiva abordada no poema pode-se observar a importância do verbo
ser, pois ao desejar ser algo, o eu-lírico dá pistas do que ele é, e de acordo com Massaud o
poeta vale-se do verbo ser para exprimir-se frente ao mundo. Ser no sentido de que o poeta
seria espectador e ator de um espetáculo todo voltado para si.
Vale-se também do verbo ver. Ver caracterizado por estar impregnado das imagens,
dos seres e das coisas do mundo exterior que ao poucos vão montando o espetáculo
juntamente com o “eu” do poeta.
Sabendo-se que a linguagem poética, para ser considerada como tal, precisa abrir mão
de certa lógica sintática e denotativa de uma língua, tem-se então uma gama imensurável de
signos de que se vale o poeta para exprimir, com palavras, seu subjetivo “eu- profundo”; o
“eu” por detrás do poeta; sua
vera forma
.
Cumpre lembrar que em nenhum momento dessas análises se referiu à pessoa física de
Cecília Meireles, mas sim a voz que permeia todo o texto poético (tratando-se de poesia,
mesmo que não haja um ‘eu’ identificável pela gramática, o eu lírico é entendido como o
responsável pela união dos elementos que compõe o poema), sendo assim, é esse eu-lírico do
poeta que se expressa por meio do poema.
Tratando-se da poesia ceciliana uma das preocupações mais freqüentes do eu-lírico é
em relação ao tempo, ou melhor, a fugacidade e efemeridade do mesmo, ou seja, o tempo é
tratado como tema a ser desenvolvido pelo eu-lírico no poema de acordo com a sua visão de
mundo. Pode-se dizer que a poesia de Cecília situa-se em um tempo indeterminado e
universal, pois não é marcado cronologicamente, o que faz de seus poemas atemporais e
acrônimos.
Referente ao tempo da poesia Massaud Moisés afirma que “o tempo da poesia é o
tempo da palavra”, sendo assim tal tempo é imensurável, quase eterno, posto que a ‘palavra’ é
milenar, tal como a escrita.
Embora o tempo possa ser medido no poema por meio de instrumentos mecânicos –
contagem de sílabas poéticas, pausas, cadências, etc – e também pelo tempo que se utiliza na
declamação do texto poético, estes não podem ser confundidos com o tempo do poema.
Desse modo pode-se compreender o tempo referente ao poema (poesia) como um
tempo permeado pela eternidade – o que constitui um jogo de opostos (TEMA =
efemeridade X TEMPO DA POESIA = eternidade), uma sutil brincadeira que ilustra o dilema
e a tensão do eu-lírico.
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