encontra em muitos dos poemas de Cecília Meireles, pois na maioria de seus poemas pode-se
encontrar esse “debruçar-se” do ser sobre os elementos captados pelos seus sentidos, como se
estes fossem, ou pudessem ser, parte integrante do eu-lírico, para ilustrar tal afirmação
vejamos um de seus poemas:
Se Eu Fosse Apenas...
Se eu fosse apenas um rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não sei dizer mais nada!
Se eu fosse água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!
Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
- de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...
Observando o título do poema já é possível comprovar o que diz Massaud, afinal, já se
tem à idéia de qual tema será tratado pelo poeta, tema no qual seu “eu” está presente, e as
duas primeiras estrofes satisfazem perfeitamente a expectativa do leitor. Demonstram quais
seriam as atitudes do poeta caso ele fosse cada um dos elementos que desejaria ser, no
entanto, tais atitudes seriam tomadas frente à visão de mundo do eu lírico, visões de que
dispõe justamente por não ser nem rosa, nem água ou vento.
Esse eu lírico pode, tal como ser humano capaz de pensar a respeito dos fenômenos da
vida, sentir “que a vida é tão dolorosa”, e não há outras palavras que sejam necessárias para
expressar seus sentimentos (“e não sei dizer mais nada!”), e que não se pode permanecer por
muito tempo nos pensamentos das outras pessoas (“como em teu próprio pensamento/ vais
1...,118,119,120,121,122,123,124,125,126,127 129,130,131,132,133,134,135,136,137,138,...445