desfazendo a minha vida!”). No entanto, repare-se que na segunda estrofe tem-se a presença
de um interlocutor; interlocutor que é afetado pela mágoa devido à ação do poeta de “ser
menos breve do que a água, / mais durável que o vento e a rosa...”.
Partindo para uma análise mais profunda a respeito desse poema, pode-se notar que o
subjuntivo
“Se eu fosse”
indica o desejo do eu lírico em ser algo que ele não é, enquanto que
o
“Apenas”
transmite ao leitor uma idéia de singeleza, simplicidade, e as reticências marcam
uma suspensão do “raciocínio”, que será retomado na primeira estrofe.
Ao referir-se a
“uma rosa”
o eu lírico nos da a informação de que seu desejo se
destina a qualquer rosa, e não a uma especifica, pois o que leva o eu lírico a desejar ser rosa é
algo inerente a todas essas flores, e não a peculiaridade de uma única flor desse tipo: todas se
desfolham... E há prazer nesse ato para o poeta, afinal, para ele a vida “é dolorosa”, note-se
que o uso do presente do indicativo do verbo
ser
possibilita que se veja tal afirmação como
uma verdade absoluta.
Outro fator que leva o poeta a falar sobre seu prazer em “desfolhar-se”, em acabar-se,
está presente no quarto verso, onde o eu lírico conclui, com ”já que” e um ponto de
exclamação ao final do verso, que já não pode, não sabe expressar por meio das palavras outra
coisa, outra idéia diferente da “que a vida é dolorosa”.
No primeiro verso da segunda estrofe há a repetição do título, mas dessa vez com
outros elementos da natureza: água e vento. Interessante é notar que nenhum dos dois
elementos vem precedido de artigo definido ou indefinido, o que pode representar a
generalização dos elementos citados, pois se fosse ‘uma água’, seria qualquer água, uma dos
muitos tipos de água que existem no mundo, salgada, doce, azul, barrenta, etc.; bem como
aconteceria com o vento.
No segundo verso há a retomada da idéia do prazer em extinguir-se, dessa vez com a
palavra “desfaria”. A comparação estabelecida pela preposição “como”, no terceiro verso,
bem como sua continuação no quarto verso, começa a direcionar a interpretação do leitor a
respeito das questões referentes à primeira estrofe e aos dois primeiros versos dessa segunda
estrofe.
Apresenta-se então no poema um interlocutor que vai esquecendo o eu lírico pouco a
pouco, afinal, o pensamento é fugaz, rápido, ademais de não ser nunca estático.
A terceira estrofe inicia-se com um pedido de perdão, por magoar seu interlocutor por
sua “humana, amarga demora!”, não se pode esquecer que essa mágoa a qual se refere o eu
lírico, bem como o adjetivo com o qual qualifica demora, “amarga”, retomam a idéia de
“dolorosa” da primeira estrofe.