Os traços revelam a leitura que o tradutor que o faz do poema ceciliano,
incluindo aí sua própria cultura, que é a de cidadão italiano. No primeiro exemplo,
temos que o azeite é a
alma
portuguesa da escritora falando. Para Portugal esse
ingrediente não é apenas um óleo, mas repleto de significação. Mas a Bizarri, contudo,
as ostras é que ganham destaque, talvez por se tratar de uma cena napolitana, cidade
costeira banhada pelo Mar Tirreno e, portanto, há que se considerar que os frutos do
mar deveriam existir em abundância naquela cidade. Já no segundo exemplo, no poema
em português poderíamos pensar em algum dos presentes com um olhar mais direto
para a cantora, enquanto, despreocupadamente, enrolava o macarrão no garfo; ou, ainda
no próprio eu-lírico que está no meio da cena, mas como observador solitário em meio a
gente. Isso se perde na tradução de Bizzarri, pois no verso traduzido são “forchette”,
muitos garfos, senão todos, preocupados apenas em comer. Note-se aqui também o
“italianismo”, uma vez que “as massas” são traduzidas pelo tipo de macarrão específico
para ser enrolado: o
spaghetti,
ainda que, em alguns lugares possam ser sinônimos.
Na última estrofe, por sua vez, os gatos, sempre “filosóficos”, “piscavam para
os talheres”, desejando o alimento enrolado nos garfos. A tradução de Bizzarri sugere
“
occhieggiavano
” que, em tradução livre, poderia ser “comer com os olhos”, o que
entendemos como bem oportuna ao sentido do verso. Na crônica “Nem sempre...”
Cecília retoma a situação das comidas e do gato:
Deixar que o cocheiro nos anuncie os pequenos restaurantes famosos:
onde se comem as melhores massas com talher de ouro (entusiasmos
americanos); onde se encontram os mais famosos vinhos, os mais
saborosos queijos, - e, enquanto sua mão desenha no ar florestas de
fettuccine
e praias de
gnocchi
, pensar em certa sala modesta onde,
antes que cheguem os turistas – se pode desfolhar em sossego
carciofi
alla giudia
, enquanto um gato, numa réstia de sol, pisca um olho
preguiçoso e às vezes parece sorrir, calmo, grisalho e filosófico...
(MEIRELES, 1999, p. 116)
Nas quatro primeiras estrofes de “Oleogravura napoletana” estão as
informações sobre a refeição no Restaurante Ciro, conforme informação obtida a partir
da crônica “Ver Nápoles e...”. O quadro se completa com a última quintilha em que a
visão da poetisa – que parece tratar-se do eu-lírico cujo garfo “enrolava as massas” -
enquanto esta pintura se desenha, lembra do Pausilipo (
Posillipo
em
Crônicas
e
tradução), “esse lugar de paz, que foi outrora residência aristocrática, inclina as verdes