poética que a toca em detalhes aos quais o turista não se prenderia. Em meio a cidades
tão antigas e com histórias tão cheias de meandros fascinantes, elege alguns
flashes
para
mostrar o modo como vê tudo isso. Assim é que nas ruínas de Pompéia, Roma ou
Florença, diante das estátuas e monumentos, capta o que não está à vista. Recordemos
um fragmento da crônica “Da ruiva Siena”: “Oh! Aquela floresta de arcos, na grande
nave, aquele mármore preto e branco a vista, a arrebatar o espírito, a arrancar-nos deste
mundo, a conduzir-nos por lugares de puro êxtase, sem imagens nem cores!”
(MEIRELES, 1999, p. 59) É desse modo que “as crônicas de Cecília estão em outro
plano e fazem inúmeras vezes o leitor mergulhar em um espaço poético, no qual a
poetisa não raro deixa aflorar momentos verdadeiramente líricos.” (GOMES, 2002, p.
116)
Algumas das viagens feitas por Cecília Meireles foram inspiração também para
em livros de poesia. Assim surgiram os
Poemas escritos na Índia
, compostos em 1953,
mas somente publicados em 1962; os
Doze Noturnos de Holanda
compostos em 1951 e
publicados no ano seguinte e os
Poemas Italianos
, escritos parte em 1953 durante a
viagem e parte no Rio de Janeiro, entre 1954 e 1956, e publicados na íntegra em 1968,
em edição bilíngue com Edoardo Bizzarri (1910-1975). Há ainda os chamados
Poemas
de Viagens
, coleção de poemas que abarcam as viagens de 1940 a 1960 referentes à
viagens pelos Estados Unidos, México e outros países, mais recentemente reunidos.
Os
Poemas Italianos
Das obras que tratam de viagens de Cecília,
Poemas Italianos
talvez seja a
menos conhecida da autora, o que pode ser verificado nos parcos estudos acerca da obra
encontrados. Na verdade, passados mais de 40 anos da publicação do livro em edição
bilíngue com Bizzarri (se tomarmos como base a época da produção dos poemas entre
1953 e 1956, seriam mais de 50 anos!), não há trabalhos significativos publicados,
nenhuma dissertação ou tese, mas apenas alguns esparsos artigos, como pode ser
verificado nas referências bibliográficas deste projeto. Acrescenta Cleusa Passos, em
um dos artigos sobre a obra:
O conjunto do qual fazem parte
Poemas
Italianos, é ainda pouco tratado
pela crítica, mas comporta recorrências que percorrem os livros
anteriores de Cecília. Desde
Viagem
(1939), ela rastreia veios temáticos
que, numa espécie de
ritornelo,
voltam e re(criam) ressonâncias de
temas, paralelismos, metáforas e paradoxos intrigantes. (2001, p. 84)
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