LEITURA DE “OLEOGRAVURA NAPOLITANA” EM
POEMAS
ITALIANOS
, DE CECÍLIA MEIRELES
Delvanir Lopes, doutor, FACEP (Ibitinga)
RESUMO:
A poetisa Cecília Meireles (1901-1964) sempre esteve envolvida com viagens. E não
apenas de viagens entre lugares reais, mas viagens permeadas pelos pensamentos, mas nem por
isso menos reais que aquelas. Torna as viagens existenciais e permite com elas, abordar outros
temas, mais universais. A viagem realizada em 1953 para a Itália deixou como fruto o livro
Poemas Italianos
, publicado, mais tarde, por Edoardo Bizzarri
em edição bilíngue.
A leitura
dos poemas deste livro ganha maior amplitude quando feita simultaneamente com os textos das
crônicas que Cecília escreveu sobre o período. Como veremos no poema “Oleogravura
napolitana”, Cecília faz menção a escritores que “elucidam” algumas das situações colocadas
nas palavras condensadas do poema, mas que só é possível reconhecê-los quando colocamos
frente a frente poema e crônicas da autora.
PALAVRAS-CHAVE
:
viagem; Cecília Meireles;
Poemas italianos
; crônicas
O ato de viajar
A arte de viajar é uma arte de admirar, uma arte de
amar. É ir em peregrinação, participando intensamente de
coisas, de fatos, de vidas com as quais nos correspondemos
desde sempre e para sempre. É estar constantemente
emocionado, - e nem sempre alegre, mas ao contrário, muitas
vezes triste, de um sofrimento sem fim, porque a solidariedade
humana custa, a cada um de nós, algum profundo
despedaçamento. (MEIRELES, 1999, p. 61)
Do ato de viajar, nas mais diferentes concepções que ele possa ter, podemos, a
princípio, inferir que “toda viagem destina-se a ultrapassar fronteiras, tanto dissolvendo-
as como recriando-as.” (IANNI, 1996, p. 4) As fronteiras da viagem, sejam reais ou
sentimentais, proporcionam, inicialmente, no contato com o novo, o amadurecimento de
si mesmo. Atravessar as fronteiras, arriscar-se no desconhecido, no ainda virtual, dá a
possibilidade de ampliar a realidade com a qual o sujeito se relaciona.
Em Cecília Meireles, a viagem não se restringe apenas ao deslocamento entre
lugares. Segundo suas próprias descrições dos espaços em que esteve, tudo o que
envolve o ato de viajar é incorporado e reelaborado pelo eu-lírico. Não lhe interessa
apenas sinalizar diferenças ou descrever lugares. Por isso, a escritora se autodenomina
viajante e não apenas turista, como lemos na crônica “Roma, turistas e viajantes”.
(MEIRELES, 1999, p. 101-104) A essência do viajar na autora mostra o aspecto, mais
evidente, de desligamento da materialidade e do apego ao imaginário. Relaciona-se,
neste aspecto, ao ar, às viagens aéreas, as quais, por sua vez, levam ao desejo de ascese,