Note-se também que o final desse verso é igual ao final das estrofes anteriores, como
se o eu lírico quisesse indicar que o poema termina nesse ponto, no entanto, o poema
continua, e o terceiro verso da terceira estrofe se inicia com um traço “-“, como se fosse uma
explicação a respeito da afirmação feita anteriormente.
A “amarga demora” que gera mágoa no interlocutor constitui-se do eu-lírico “ser
menos breve do que a água/ mais durável que o vento e a rosa”, no entanto o que é ser menos
breve do que a água? Sabe-se que a água é um dos elementos naturais mais duráveis do
planeta, ainda que se “desfaça” muitas vezes em seu ciclo ‘eterno’, então a afirmação do eu
lírico não seria passível de compreensão lógica, pois a água não é de modo algum “breve”.
Entretanto, esse verso passa a ser compreendido quando se lembra de uma teoria pré-
socrática, especificamente a de Heráclito, na qual se acredita que não se pode entrar duas
vezes no mesmo rio, porque, ao se entrar pela segunda vez, não serão as mesmas águas que
estarão lá.
Sendo assim, o eu lirico se refere a brevidade com a qual a água muda, e não ao
elemento e si. Ser menos breve do que essa mudança é permanecer por mais tempo do que a
mudança dessa água que passa, que escoa rápidamente, que dura apenas segundos, ou ainda
milésimos de segundo.
O último verso retoma o vento e a rosa, já citados anteriormente, mas agora para
enfatizar a demora do eu lírico em acabar-se, pois este é “mais durável” do que ambos. A
partir dessas aproximações estabelecidas, da água, do vento e a rosa, tem-se por parte do eu
lírico a comprovação de que há uma certa demora em sua condição humana.
Esse último verso permite entender melhor qual a condição desses elementos no
poema, eles são exaltados pelo eu-lírico devido seu pouco tempo de ‘vida’, sem os anos dos
seres humanos.
Pode-se perceber ainda uma recolha, no tocante aos recursos estilísticos do poema,
pois retoma cada um dos itens utilizados nas estrofes anteriores, e até mesmo no título, por
exemplo, as reticências.
Assim, o eu-lírico faz uso da poesia para expressar seu sentimento, para ele de nada
vale sua condição de ser humano que dura mais do que os elementos aos quais se refere, pois
mais valeria ter uma existência mais rápida, mais efêmera, posto que a vida não lhe
proporciona alegrias que o façam, ou lhe permitam dizer que a vida é boa e alegre, e nem
mesmo as pessoas mais próximas – note-se o pronome possessivo
teu
, referente a tu, o que
indica proximidade do interlocutor com relação ao eu-lírico – o têm no pensamento por mais
de um breve instante, e que algumas vezes, essa demora em não mais existir causa uma
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