caráter efêmero, também por nunca parar de escoar, bem como o vento não dura por um
tempo muito longo.
Há a presença do Existencialismo nesse poema pelo fato de que em nenhum momento
do poema o eu-lírico determina claramente o elemento ao qual se refere: uma rosa, a água, o
vento. Ainda que utilize artigos, estes não estão determinando os elementos enquanto
proximidade ou distancia do eu-lírico (esta rosa, aquela água, etc), mas apenas determinando
seus gêneros – masculino e feminino – o que faz com que tanto o artigo indefinido como o
definido tenham o mesmo valor.
Assim, ao evocar esses elementos em seu poema o eu lírico deixa claro que poderia ser
qualquer rosa, qualquer vento ou água, afinal, a efemeridade de uma rosa não é característica
única e particular de determinada rosa, mas é algo inerente a existência de todas as demais
rosas do mundo, bem como acontece com a água e com o vento.
Pode-se dizer que o eu lírico compara também esses elementos, ou melhor, a
efemeridade, o rápido extinguir-se desses elementos aos pensamentos humanos, assim, tem-se
um novo item integrando o conjunto do texto; embora o ser humano não seja tão efêmero
quanto a rosa, a água e o vento, há nele algo que se aproxima dos elementos da natureza que
foram citados devido sua igual efemeridade, consciência de que há um fim, note-se que no
pensamento “vais desfazendo a minha vida”, desfazer, então, tem o mesmo sentido de
desfolhar-se e desfazer-se. Há na essência humana a condição de não guardar todos os
pensamentos por muito tempo na mente, mas sim a de esquecê-los sempre, ainda que seja aos
poucos, como a rosa ao desfolhar-se o faz pétala por pétala.
Conclusão.
A partir das análises apresentadas, tanto literárias como filosóficas, pode-se perceber
que há no poema analisado características do Existencialismo, segundo a proposta do ensaio
de Jean Paul Sartre
O Existencialismo é um Humanismo
, pois muitos dos temas abordados por
Cecília Meireles em sua poesia dialogam com a filosofia de Sartre a respeito das questões
humanas.
Tal constatação além de responder a questão que originou esta pesquisa, possibilita
também compreender a magnitude da obra de Cecília, pois sua obra passa a ser vista por uma
outra perspectiva que não só a Literária. Também auxilia na compreensão da poética dessa
“poeta”, pois ademais de tudo o que se diz de sua poesia – suave, feminina, etc. – poder-se-á
compreendê-la enquanto um eu – lírico que sabe-se frágil, sozinho e efêmero.
A compreensão de tal filosofia nos poemas cecilianos permite uma análise mais clara e
com maior percepção da riqueza dos processos dos quais se valeu o eu - lírico para chegar ao
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