lúdica, dialogando com textos brasileiros de matriz folclórica ou popular (BELINKY,
2007, p.08)
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:
— O Zé se afogou no açude!
Está com um pé no ataúde!
— Que importa estar mal,
na reta final?
Importa é que tenha saúde!
Atendendo à proximidade com textos da cultura popular, os “Bruxoliques” de
Um caldeirão de poemas
são tecidos no diálogo entre a forma inglesa e o conteúdo
brasileiro (BELINKY, 2007, p.53), demonstrando a versatilidade do hibridismo poético:
Um bruxo chamado Burlão
Caiu dentro do caldeirão.
Deu um berro. “Óxente!
Que lugar mais quente!”
E explodiu feito um balão.
A poesia infantil contemporânea, assim, “[...] incorpora bem outra lição
modernista: a de que o lirismo mais profundo pode ser trabalhado através dos temas
mais prosaicos e mais cotidianos” (LAJOLO; ZILBERMAN, 2004, p.152).
O livro
Limeriques da Cocanha
(2008), de Tatiana Belinky, ilustrado por Jean-
Claude Alphen, trata-se de uma obra dialógica que permite ao leitor, conforme Eco
(2003, p.212), perceber a “piscadela do texto”. No caso, a citação intertextual presente
no jogo verbal e no visual. Justifica-se, então, que esta obra tenha sido eleita como
objeto de estudo deste artigo, uma vez que se objetiva analisar aspectos do gênero
poético que a compõe:
limerique
, além de suas potencialidades estéticas que podem
auxiliar na formação do leitor. Parte-se do pressuposto de que a intertextualidade
presente na obra faculta a comunicação com o leitor e suas ilustrações mobilizam sua
biblioteca vivida
, sua memória. Além disto, a comunicação ocorre no texto, por meio da
presença de vazios intencionais que geram expectativa e tensão. Para que a interação
entre texto e leitor resulte em interpretação, faz-se necessário que o leitor projete a
expectativa e a memória uma sobre a outra. Assim, constrói-se neste texto a hipótese de
que a leitura do livro de Belinky solicita um complexo exercício cognitivo de síntese,
comparação e analogia do leitor mirim. Enquanto seu texto verbal e não verbal o
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Registra-se na contracapa do livro (BELINKY, 2007): “Limerique é uma maneira de escrever poemas
com cinco versos, de forma que as rimas do primeiro, segundo e quinto versos sejam iguais, enquanto o
terceiro e o quarto têm rimas diferentes e são mais curtos (esquema AABBA).”