A MARGINALIDADE DA POESIA ORALIZADA DE RENATO RUSSO
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Elisângela Maria OZÓRIO
(Mestrado em Literatura e Crítica Literária – PUC – SP)
Resumo:
Paul Zumthor, crítico e estudioso das expressões da poesia oral, nos revela que a
canção é a mais perfeita manifestação poética, porquanto é uma voz harmoniosa
que lê e representa o signo-de. A palavra poética proferida musicalmente alcança
reações físico-emocionais em plenitude, e o corpo reage a sua recepção sonoro-
leitora, que se materializa na voz. Com o avanço histórico do ser humano, a canção
se dividiu entre poesia e música. Sem os sons instrumentais, coube à poesia
somente a palavra escrita. A canção se transformou, enfim, na capacidade do poeta
extrair da palavra escrita os sons perdidos da música, recriando imagens poéticas.
Tal belo trabalho favoreceu as diversas e múltiplas maneiras de poetizar, o que
ocasionou o aparente esquecimento da canção inicial e primária. No entanto,
algumas vezes, a poesia procurou o encontro com a música, retomando a origem.
Desse encontro, saíram canções poéticas que, conforme o costume, foram negadas
e excluídas pelos críticos literários e acadêmicos, porque não exploravam a palavra
na mesma proporção da criação poética escrita. Fatídico ou não, essas canções
existiram – e existem – e integram a diversidade do fazer poético. Marginalizada
pelos cultos da atualidade, a canção poética não se desdobra em registros escritos,
e sim em vozes que presentificam o objeto poético. Seu estudo não busca a escrita;
busca a compreensão da linguagem da poesia por meio da voz, que metaforiza a
representação do outro. À vista disso, ao olharmos para o
rock
de Renato Russo,
não nos deparamos somente com uma letra de música; vemos uma composição
escrita não de base e acompanhamento musical. Observamos uma expressão
poética de resistência e contestação, sem a lapidação do escrito, que representa ora
a dura realidade, ora a possibilidade de um universo perfeito, a utopia. O embate
entre o real e a utopia é vivenciado e partilhado pela poesia cantada de Renato
Russo, em que as vozes do cantor e do público se misturam e recriam o espaço
velado da palavra poética.
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Artigo aguardando publicação em anal pela UNESP de Assis.
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