desconhecido permite-lhe prazer no aprendizado da vida, complementando ciclos
infindáveis de saberes humanos. Em Aristóteles, nos deparamos com uma
aproximação e uma breve explicação da poesia primitiva, uma vez que essa poesia
era vivenciada pelo grupo social a fim de encenar a vida e o espaço coletivo do
cotidiano. Na obra
Na Madrugada das Formas Poéticas
:
A poesia primitiva, entretanto, não é exclusivamente a poesia dos povos pré-letrados,
mas a poesia que está ligada ao canto, indiferenciada, anônima e coletiva. É a poesia
em seu estágio ancilar, isto é, subordinada à música e às vezes à coreografia, mais
especialmente àquela. Daí o campo de nossas indagações abranger não só as
manifestações poéticas dos povos naturais, como também aquelas que se situam na
infância ou na madrugada dos povos atuais. A função ancilar da poesia está
representada pela associação em que viveu com a música, de certo modo com a
dança, antes que surgisse a pessoa do poeta, a poesia individual. E aqui poder-se-ia
objetar: a pessoa do poeta só apareceu quando a poesia se dissociou da música? No
estágio ancilar a poesia é inevitavelmente anônima? A chamada poesia democrática,
a poesia como criação coletiva, não existe. A poesia primitiva é uma poesia de
caráter coletivo porque representa os anseios da coletividade e está intimamente
ligada ao
modus vivendi
dessas comunidades; a sua realização poética, entretanto,
atribui-se a uma
tetê poétique
, alguém que na tribo se distinguiu por essas qualidades
(SPINA, 2002, p. 15).
De acordo com o autor, a poesia primitiva se caracteriza pela junção com a
música, não pela passagem ou evolução da escrita. Nos tempos moderno e
contemporâneo, este tipo de poesia, em menor escala de produção do que havia
nas tribos, se mantém, estando a criação dependente da base musical. Os homens
antigos da poesia primitiva se representavam no canto: o trabalho, os conflitos, os
amores, enfim o cotidiano do homem ordinário. Encontravam na canção a
reorganização do Cosmos: a sociedade grupal. Por meio da voz, que entoava
melodiosamente a palavra, e da música, a sociedade primitiva executava a
linguagem poética e a catarse contida no signo metafórico oralizado. A junção da
palavra poética e da música formava o que Paul Zumthor (1997) chama de arte
perfeita: a canção, “Na poesia se aninha a esperança de que um dia uma palavra
dirá tudo. O canto exalta essa esperança, e, emblematicamente a realiza. Isto
porque poesia oral dá à voz sua dimensão absoluta; à linguagem humana, sua
medida máxima” (ZUMTHOR, 1997, p. 275).
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