população estava em crise econômica e social, bem como não havia mais formação
intelectual crítica do indivíduo. O que aconteceu foi a entrega de uma democracia a
um país desorientado e descrente, sobrevivendo com trabalhos autônomos. O Brasil
oitentista era “candidato a campeão em desigualdade econômica” (HOBSBAWM,
2006, p. 397).
A diferença social dentro da nação e entre os países contribuiu para a enorme
propagação do pensamento distópico, e o
rock
pareceu, para a juventude
desempregada e sem futuro, a única saída.
Fábrica
representa a dualidade das
camadas sociais: o trabalhador escravizado e o dono da empresa, o escravizador.
Dessa vez, a voz não é mais calma como em
Vento no Litoral
, tampouco a
respiração sôfrega de
Meninos e
Meninas
. Agora a voz metaforiza o trabalho da
fábrica, o movimento da grande cidade. A suavidade vocálica cede espaço para o
martelo das palavras. O som instrumental resgata a batida forte e rude do
punk rock
.
O conjunto som-voz derruba o universo desvelado do lugar-comum: “Nosso dia vai
chegar, / Teremos nossa vez” e instaura a metáfora da sociedade brasileira, não
somente da fábrica, e sim de toda a organização social em plena decadência.
O céu já foi azul, mas agora é cinza
E o que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar
Com fogo.
Estabelecendo um paralelo entre o passado perfeito e o presente imperfeito, a
poesia cantada reafirma a revolução no desafio ao fogo, que fere e mata, como os
proprietários da fábrica, que exploram os operários na obtenção do lucro. O desafio
ao fogo (o proprietário) abre caminhos para a utopia, para a reintegração do sonho:
Deve haver algum ligar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.