Na declaração acima, a liberdade é o grande tema da poesia do
rock
. Desde
os primeiros passos, a música invadiu os assuntos considerados complexos para um
debate social, mas necessário para a liberdade do indivíduo. Se, nos primeiros
acordes, a inocência da liberação sexual através dos movimentos sensuais do corpo
era tabu, ao longo da história, o
rock
se embrenhou nas questões morais e éticas.
Na tentativa de recriar a sociedade, o
rock
se refugiou no uso indiscriminado da
droga. Como não bastou, a próxima fuga foi dirigida para a violência do corpo, das
letras e do som na vertente musical
punk
. Tudo é ofertado na experiência da palavra
poética lascada. Assim, horrivelmente melodiosa, o
rock
resgata as canções tribais,
na qual a participação do grupo social implica o compartilhamento e a
experimentação de todos os indivíduos, atingindo uma catarse coletiva e construindo
o cidadão social. O
rock
retoma parte dos elementos da ação poética dos ancilares:
a experiência compartilhada pelo grupo e a purificação emocional. Tais elementos
integram os espetáculos de
rock
; nas aglomerações dos
shows
, os indivíduos
compartilham a palavra lascada e purificam as emoções. Junto aos elementos, o
rock
acrescenta a convocação e a participação recíproca do outro: “Os diálogos de
chamado-e-resposta – originários dos cantos africanos – eram executados por um
cantor principal e pela congregação que respondia” (FRIEDLANDER, 2008, p. 34).
Note que, na música, cantor e público se alternam na cantoria. Não há mais a
divisão clássica entre aquele que canta e aquele que ouve. Todos cantam, todos
ouvem. São um único corpo vivo, comungando da pedra lascada que se
metamorfoseia em poesia.
Apesar de enfrentar constantes recursos mercadológicos, pois é um negócio
lucrativo entre os jovens, o que, por vezes, empobrece a música, o
rock
consegue
sobreviver às adversidades e conservar os caracteres rebeldes e libertários. O
caráter prazeroso do
rock
venceu as barreiras territoriais e chegou ao mundo e ao
Brasil. Aqui a pedra lascada se lapidou pelos compositores poetas da década de
oitenta: Renato Russo, Cazuza e Arnaldo Antunes (paráfrase de DAPIEVE, 2004).
O que colaborou para que esses compositores virassem poetas foi a
influência de outro fenômeno cultural nacional: a poesia marginal da década de
setenta. Como é de conhecimento geral, a poesia marginal, se vendo achatada pela
editoração tradicional e pela censura militar, abriu seu espaço em maneiras diversas
de publicação: “Ela podia ser lida nos muros, nos banheiros públicos, nas margens