humano. A certeza de não se encontrar em um mundo real, repleto de conceitos
preestabelecidos pela crença tradicional é exposta desvelada na palavra usual e
comunicativa, que perde o pragmatismo na execução do canto. Ao se debruçar
sobre a ausência de identidade com a sociedade, o eu poético busca o caminho da
fuga, do espaço perfeito. Busca no outro, que o ajude, a encontrar a si mesmo: “Vem
comigo procurar algum lugar mais calmo”.
A busca da própria identificação com o grupo é poetizada por meio da voz
decantada. A voz metaforiza a não identificação do grupo social e a fuga a partir de
uma passagem respiratória longa-breve. Ou seja, no início do verso, a voz se
prolonga, mas, no percurso dos próximos versos, o prolongamento se esvai, a
respiração cede ao tempo curto e veloz, as palavras são pronunciadas mais
duramente. Ainda no momento mais harmônico da canção, a voz não alcança a
melodia instrumental e oral. Próxima à fala comum, a voz “lê” antimelodicamente as
palavras, sendo que, nos versos “E dessa gente que não se respeita/ Tenho quase
certeza que eu/ Não sou daqui”, as palavras são vomitadas. O processo sonoro das
palavras integram a performance de Paul Zumthor tanto lembrada e citada aqui: “A
performance é a ação complexa pela qual uma mensagem poética é
simultaneamente, aqui e agora, transmitida e percebida” (1997, p. 33).
Em outra situação, Renato Russo recria a libertação:
De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.
Longe dos espaços sociais e da busca pela identificação,
Vento no Litoral
(1991) se inicia com a imagem do espaço liberto, do ser humano que se depara com
a paz na experimentação do simples, dos elementos naturais de ordem comum.
Fugindo da desarmonia de
Meninos e Meninas
,
Vento no Litoral
traz uma das
canções mais calmas e sonantes do autor poeta. Contudo, a voz se mantém
decantada, trazendo a fala cotidiana para os ambientes musical e poético. A voz de