Palavras-chave: canção; Renato Russo; poesia oralizada; poesia.
Nas palavras de Décio Pignatari (1981), a poesia possui uma linguagem livre,
que transita pelas artes, sem se aprisionar a um campo criativo do homem: “A
poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que
da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai
mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da
poesia” (PIGNATARI, 1981, p. 01). Pertencente aos estudos literários, a poesia
avança à própria literatura, se encontrando com a música, a pintura, o teatro, pois a
linguagem poética é viva, é experimentação sensorial do objeto tornado real pela
arte. A poesia representa o universo metafórico para o ser humano que, ao buscá-lo,
procura a si mesmo, procura reorganizar a vida, por meio da compreensão das
emoções, que se convertem em materiais de conhecimento e sabedoria: “O poema
nos revela o que somos e nos convida a ser o que somos” (PAZ, 1982, p. 50). Como
já nos indicava Aristóteles, em sua
Poética
, ao tratar a literatura como forma de
conhecimento:
Parece ter havido para poesia em geral duas causas, causas essas naturais. Uma
que imitar é natural nos homens desde a infância nisto diferem dos outros animais,
pois o homem é que tem mais capacidade de imitar e é pela imitação que adquire os
seus primeiros conhecimentos; a outra é que todos sentem prazer nas imitações.
Uma prova disso é o que acontece na realidade: as coisas que observamos ao
natural e nos fazem pena agradam-nos quando as vemos representadas em imagens
muito perfeitas como, por exemplo, as reproduções dos mais repugnantes animais e
cadáveres. A razão disto é também que aprender não é só agradável para os
filósofos mas é-o igualmente para os outros homens, embora estes participem dessa
aprendizagem em menor escala. É que eles, quando vêem as imagens, gostam
dessa imitação, pois acontece que, vendo, aprendem e deduzem o que representa
cada uma, por exemplo, “este é aquele assim e assim”. Quando, por acaso, não se
viu anteriormente o objeto representado, não é a imitação que causa prazer, mas sim
a execução, a cor ou qualquer outro motivo do gênero (ARISTÓTELES, 2004, p. p.
42-43).
Na mímese da vida, o homem passa a desenvolver o raciocínio emocional,
porquanto, na análise da arte poética, o raciocínio lógico passa anteriormente pela
experiência da emoção. Quem vive a emoção, se purifica, adquire saberes e vê
melhor o mundo, tendo condições de uma análise crítico-participativa sobre os
acontecimentos reais, porque aprende emocional e logicamente sobre o mundo e a
sociedade em que vive. A catarse aristotélica presente na representação do outro
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