Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 236

AS DESIGNAÇÕES “NEGRO”, “PRETO”, “MULATO” E
“AFRODESCENDENTE” E O SILENCIAMENTO DOS SUJEITOS NOS
DISCURSOS SOBRE AS AÇÕES AFIRMATIVAS
Marcelo Giovannetti Ferreira LUZ
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Resumo:
As políticas de ações afirmativas, na tentativa de instituírem as cotas raciais,
fizeram emergir uma discussão acerca da constituição racial do cidadão brasileiro. A
produção dos discursos referentes às ações afirmativas apresenta novos modos de
designar o negro, sendo essas ditas “politicamente corretas”, pois não parecem tão
discriminatórias. Ademais, por detrás de uma afirmação do que seja ou não correto,
percebemos que há uma tentativa de silenciamento das vozes sociais representadas por
parte da população que não se enquadra sob a nomeação “negro”. Este artigo busca
discutir que sentido tem-se ao produzir um efeito de sinonímia entre “negro”, “preto”,
“mulato” e “afrodescendente”, visto tais designações referirem-se a posições-sujeito
distintas no discurso, bem como pretendemos analisar qual sentido atribui-se à
miscigenação no Brasil, em vista de tal silenciamento.
Palavras-chave:
Designação, identidade, nomeação, silenciamento, subjetivação.
Introdução
As políticas de Ações Afirmativas promovidas pelo Estado deram início a um
acontecimento histórico e discursivo, com uma questão complexa de ser discutida na
sociedade brasileira. Tal complexidade deve-se ao fato da intensa miscigenação pela
qual o país passa, desde o tempo de sua colonização pelos portugueses, e depois,
durante o tráfico negreiro, período a partir do qual começaram a conviver neste
território três etnias distintas. De princípio, têm-se aí três “tipos” de sujeitos – o branco,
o índio e o negro –, constituídos por suas práticas sociais e de dizeres responsáveis por
sua individuação no lugar social que ocupa.
Fruto dessa intensa miscigenação, surgiram os seus descendentes, nomeado de
acordo com sua origem, como “mulatos”, filhos de negros e brancos; “mamelucos”,
filhos de índios e brancos e “cafuzos”, originários de índios e negros. Não obstante,
além desses tipos de relações, deparamo-nos de igual maneira com aquelas resultantes
do cruzamento entre “mamelucos” e “cafuzos”, bem como outras possibilidades de
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 Mestrando na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar,
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